Sempre
tive um pé atrás com as “listas dos 10, 20, 30 mais” e suas variantes. As mais
bem elaboradas listas dos “melhores livros” e afins causam-me a seguinte
impressão: concordo com as obras listadas, mas faltaram tantas outras...creio
que deva até ser um sentimento bastante comum.
Porém,
em um diálogo com minha esposa sobre estas relações – no momento em que ela me apresentava
uma destas e indagava sobre algumas obras – Vanessa Alencar me fez a proposta:
por que você não monta a sua lista? No momento eu pensei: serei eu mesmo a
cometer injustiça com os grandes livros que vou deixar de fora? Logo em seguida
fiquei pensando em critérios para a composição de uma lista.
O
primeiro critério: quantas obras citar? Bem, escolhi 11 livros. Por qual motivo
o número 11? Uma forma subversiva de lidar com o comum “Os 10 mais...”. Fiz questão
de ser bem pessoal na escolha dos títulos. Por isto, muitos clássicos que acho
essenciais – apesar deste adjetivo posto – não estarão aqui. Por fim, não listo
de maneira ordinal: primeiro-melhor, segundo-melhor...e por aí vai. Para mim
são obras igualmente importantes. Ah, e são apenas da literatura.
Mas
a proposta da lista é muito interessante. Por isto aceitei. Todavia, caro
leitor, você tem todo o direito e deve discordar. O objetivo aqui é apenas
falar de alguns dos inúmeros maravilhosos livros da humanidade.
1 – O Lobo da Estepe de Herman Hesse:
um romance ímpar em minha opinião que aborda as batalhas internas e as crises
existenciais de todo ser humano ao se defrontar com a chamada “idade da razão”,
ou “idade do lobo”. O confronto entre o lado homem e o lado lobo na obra de
Hesse mostra o quanto vamos além da barreira do maniqueísmo. Sem contar com a belíssima reflexão sobre o
suicídio na melhor parte da obra: O Tratado do Lobo da Estepe.
2 – Fahrenheit 451 de Ray Bradbury: é
simplesmente o clássico contra o totalitarismo e a intolerância. De maneira
precisa, Bradbury mostra os métodos dos intolerantes para fazer prevalecer uma
realidade favorável ao comando de poucos e se livrando do questionamento de
muitos. Um mundo onde a ignorância esconde o óbvio e o perigo disto é revelado
em Farenheit. Um clássico para se colocar ao lado de Admirável Mundo Novo de
Huxley e 1984 e Revolução dos Bichos, ambos de George Orwell.
3 – A Revolta de Atlas de Ayn Rand: um
livro extremamente influente na formação política de qualquer cidadão. A
leitura de Ayn Rand vale por uma biblioteca inteira de ciências políticas. Além
disto, o livro é uma aula de empreendedorismo e necessária para quem quer
pensar mais sobre o papel de um governo, sem contar com a abordagem inteligente
sobre corrupção, política, relações sociais, enfim...uma obra essencial em uma
biblioteca. Sobre carregar o mundo nas costas...
4 – Memórias Póstumas de Brás Cubas de
Machado de Assis: a genialidade de um mestre em seu melhor momento. O
defunto-autor de Machado de Assis é um homem despido de qualquer convenção social
para discorrer sobre tudo do auge da fina ironia. Uma autopsia do humano.
Machado de Assis deveria ser leitura obrigatória dos cursos de psicanálise.
5 – O Retrato de Dorian Gray de Oscar
Wilde: os aparentes paradoxos contidos nos aforismos de Oscar Wilde são
verdadeiros tapas na cara da existência. Diante de um espelho para enxergar a
humanidade, eis o que provoca o quadro de Dorian Gray. Sem contar a sinergia
entre os três principais personagens da obra formando – ao fim de tudo – uma única
personalidade. A estética da obra e a beleza poética também merecem ser
destacadas.
6 – Ulysses de James Joyce: demorei
muito para chegar ao fim desse livro. Pela sua imensa quantidade de páginas e
por ter iniciado em um período conturbado. Mas foi uma viagem que valeu muito a
pena e indico. Aqui, a superação dos desafios para retornar ao que realmente se
importa. A épica travessia moderna de Leopold Bloom revela muito do que é o “homem
moderno”. Joyce também brinca com os estilos da Literatura.
7 – O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago: o personagem principal é o famoso
heterônimo do escritor Fernando Pessoa. O livro é uma homenagem aos heróis anônimos,
como já colocou a estudiosa Ana Paula Arnaut. Mas é justamente isto. Traz uma discussão
sobre o fascismo de pano de fundo. Para mim – que sou um fã de Saramago –
estamos diante de sua melhor obra. Claro que poderia entrar nesta lista
qualquer outro livro de sua autoria, até mesmo em homenagem a estética singular
usada pelo escritor.
8 – O Livro do Desassossego de Fernando
Pessoa: – uma viagem melancólica, depressiva, mas construtiva. Para mim, a
obra foi – por diversas vezes – um reencontro com a alma (sem ser no sentido
religioso). Fernando Pessoa ao se mostrar nesta obra de uma forma ímpar,
pulando de um trapézio sem rede de proteção, fala muito sobre o leitor ao falar
de si mesmo. Eis minha sensação.
9 – A Revolução dos Bichos de George
Orwell: a melhor fábula da humanidade contra o pensamento totalitário. Isto
já diz tudo. Acho o livro 1984 melhor em densidade, sobretudo pelo conceito de
criação de uma nova língua para inverter a lógica dos fatos. Mas, Revolução dos
Bichos – pela proposta – merece integrar qualquer lista de melhores obras da
humanidade.
10 – Crime e Castigo de Dostoievsky: um
livro que me deixou sem palavras (com perdão do trocadilho). Culpa, perdão,
redenção, ambição...expostos da melhor forma pela literatura. Não é por acaso
que li uma reportagem – dia desses – de um juiz que resolveu estimular a
leitura de reeducandos. Começou por esta obra de Dostoievsky. Um livro denso,
mas apaixonei-me de tal forma pela obra que li em dois dias. Não consegui
largar. Depois reli algumas vezes. Sempre surgiu como um livro novo em minhas
mãos.
11 – A Peste de Albert Camus: o livro
do rompimento decisivo com o existencialismo proposto por Jean Paul Sartre (Idade
da Razão poderia estar nesta lista, acreditem). Camus coloca a revolta
individual e libertária em primeiro plano,
distanciando – desta forma – o existencialismo das correntes
político-ideológicas derivadas do marxismo.
Como diz o próprio Camus: “não podemos ficar alheios ou distraídos”.
Esta obra do final da década de 1940 fala muito sobre o sentimento de
solidariedade e da condição humana.
Finalizo
a lista com certeza de inúmeros injustiças cometidas com tantas obras
maravilhosas da humanidade. Mas, é bem pessoal. Talvez se tiver que fazer esta
lista novamente em alguns anos ela mude...quem sabe...risos
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