segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

FAZER (olha o VERBO!) Filosofia!


“Quem é jovem não espere para fazer filosofia; quem é velho, não se canse disso!”. A frase é de Epicuro. Está presente na Carta a Meneceu. Quem acompanha este blog sabe o quanto a temática da filosofia me atrai, mesmo sendo alguém distante – totalmente por fora mesmo! -do meio acadêmico. Por vezes, entre doutrinas e filodoxias, tenho a impressão de que entre os muros que formam a fortaleza da filosofia oficial e suas salas de aula fica justamente o local onde se filosofa menos. Onde se doutrina mais.

Tem doutor que se agarra ao título de pensador para fazer da filosofia uma religião e a sacrifica levando a vaidade ao altar. Lá se casam e procriam sofismos. Por sorte, surgem sempre os que versam sobre a essência da filosofia e retomam, reconstroem, mostram a ponte entre a filosofia e o cotidiano. Entre a filosofia e as nossas escolhas. O quanto ela está presente em nossos dias; o quanto faz parte do “mundo prático”.

Na formulação dos conceitos, na busca por essências, nas concepções de justiça, beleza, dentre outros temas. Sou fã dos escritores que rompem essas barreiras do academicismo e do doutrinamento para apresentarem ao grande público o que de fato é filosofia. Na França, o trabalho de Luc Ferry deve ser sempre aplaudido. Aprender a Viver é um clássico da filosofia moderna. Apesar do título – o que leva a muita gente a confundi-lo com livro de autoajuda (falo aqui do conceito das prateleiras das livrarias) no Brasil – a obra nos coloca em uma viagem pelo conhecimento que verdadeiramente liberta.

O bom debate em que o foco é a verdade. Ao contrário dos arrogantes seminários enlatados que disfarçam sua real intenção de doutrinar alunos em função de uma corrente ideológica, quando não político-partidária. Ferry é um escritor que ajuda a desintoxicar o pensamento. Mas, não se trata apenas dele. Não é o único! (Ainda bem).

Guardando as devidas proporções, o trabalho do professor Clóvis de Barros Filho também é admirável. O contato com sua obra abre links importantes para que revisitemos a filosofia clássica - especialmente Sócrates e Platão – com o foco de pensar as nossas vidas. Como o próprio Clóvis Barros Filho coloca: “pensar a vida boa”. Em “A Vida Que Vale A Pena Ser Vivida”, o convite que o professor universitário nos faz é desafiador. Buscar a essência do que nos cerca para então julgar o particular.

Clóvis de Barros Filho nos apresenta o caminho, jamais a resposta. O exercício da premissa socrática do “só sei que nada sei” dentro do cotidiano. “Querido leitor, proponho uma conversa”, abre o escritor, em períodos onde tanta gente “mostra” a verdade. Há academias inteiras empurrando uma visão dicotômica de mundo como se filosofia isto fosse. Por isto, que em terreno infértil, as prateleiras de livrarias estão lotadas de obras que não dialogam com a realidade. Ou pior: vomitam suas dicotomias para se lançarem como salvadoras.

E por que é tão importante uma filosofia praticada com honestidade intelectual? Por qual razão ela precisa estar presente em nosso cotidiano? Pela razão pela qual sempre esteve. Por isto é importante. Todos nós procuramos uma vida boa. Sem pensar para viver – convite que é feito por todos os filósofos do mundo – mergulharemos em vidas superficiais regidas apenas pelo pêndulo do “desejo” e do “prazer”, confundindo o próprio prazer com a felicidade.

Decretando, como diria Jean Paul Sartre, o suicídio do prazer toda vez que saciado o desejo. Uma existência menor, sem grandes questões a serem alcançadas. O dinheiro pelo dinheiro. O prazer pelo prazer. Uma eterna adolescência tão bem fornecida – como coloca Mário Vargas Llosa - “pela sociedade do espetáculo”. Seriamos sombras e sobras em uma caverna, fazendo alusão ao filósofo Platão, por exemplo.

Quem muito bem coloca isto é Santo Agostinho em uma conversa com Santa Mônica. “Se quer bens e os tem, és feliz. Se queres coisas más, ainda que as tenha, serás infeliz”, diz Mônica. Agostinho, então responde: “Mãe, alcançastes por completo o próprio refúgio da filosofia”. Vale a pena ler o diálogo completo em Diálogo Sobre a Felicidade.


Com uma linguagem mais acadêmica, quem nos empurra para o uso da filosofia de fato – e não como instrumento de laboratório dentro de academias e de maneira estéril! - é o mestre Miguel Reale. Introdução à Filosofia da Editora Saraiva é uma excelente obra para quem de fato quer fugir da filodoxia domesticada pelo proselitismo.

Como abri com Epicuro, finalizarei com ele: “por isso tanto o jovem quanto o velho devem FAZER (vejam bem o significado deste verbo) filosofia. Um para que, embora envelhecendo, permaneça sempre jovem de bens por causa do passado. O outro para que se sinta jovem e velho ao mesmo tempo, para que não tema o futuro”. Eu acrescentaria: para que não entreguemos o futuro de mão beijada para os que insistem para não pensarmos e somente acreditarmos neles.