Não
gosto muito de rótulos. Acho-os perigosos. Delimitam qualquer possibilidade de
entendimento melhor sobre o que uma pessoa quer dizer, pensa, busca
expor...enfim. Quando não, abre espaço para que – açodadamente – se julgue o
livro pela capa.
Tenho
mania de recorrer ao silêncio diante do que escuto. Pesquisar diante da dúvida,
para só então fazer uso da palavra. Um respeito pelo outro e por mim mesmo.
Pelo outro, por evitar a injustiça; por mim mesmo, por saber que o excesso de
certezas molda o estúpido; que finca raízes onde o colocam e ali permanece para
estar a serviço das verdades que professa.
Devemos
assumir a responsabilidade com o nosso próprio EU! Não quero entregar de
bandeja minha liberdade de reflexão, de pensamento, de escolhas...enfim, a garantia
de nossas liberdades individuais. Penso eu que quem se vende, recebe sempre
mais do que vale, por menos que receba.
Não
é fácil tarefa. Requer muitas vezes divergir sem ser grosseiro. Ir no mérito de
questões e não ir “para cima de pessoas” como um leão faminto pronto para
aniquilar o oponente. Requer refletir sobre as sombras e buscar a saída da
caverna; ao invés de maldizer a luz.
Thomaz
Jefferson foi muito sábio: “se uma nação espera ser ignorante e livre ao mesmo
tempo, espera ser algo que nunca existiu”. O mesmo vale para o indivíduo. Nunca
consegui, por exemplo, ser “admirador” de um filósofo sem ir a fundo na leitura
de sua obra. Nunca consegui, e aí falo por mim, arrotar conhecimento após o
consumo de “orelhas de livros”.
Não
estou defendendo o eruditismo com isto, estou apenas buscando uma reflexão
sobre a estranha existência de tantos especialistas em tantas coisas. Os
“profundos” pitaqueiros que se afogam na própria mediocridade.
Sempre
estranho os “que sabem tudo” e direcionam tudo para uma mesma óptica. Possuem
um funil por onde passam as interpretações que fazem da realidade. Percebam que
este “funil” acaba por levar sempre a conclusões que estão a serviço de uma
causa fundamentada em pensadores que muitas vezes sequer foram lidos pelo tal
“especialista”.
No
máximo, o tal “especialista” foi doutrinado em uma “forma de pensar” que faz de
pensadores...os “mitos”. Acho uma pena; pois – aos poucos – vamos perdendo a
essência de algo fundamental ao processo filosófico que engradece o ser humano:
o debate. Vira e volta é preciso sim revisitar o que já disseram sobre Sócrates
e o processo do conhecimento. Resumindo
na frase “só sei que nada sei”, nos empurra ao autoconhecimento e não a uma
doutrina.
Que
faz um doutrinador no curso de filosofia? Filodoxia! Que faz um obscurantista
numa palestra? Proselitismo! Que faz um militante cego em uma rede social?
Aniquilar o oponente e destilar ódio! E por aí vai...é de lembrar de Tomás de
Aquino: não pode jamais do mal nascer o bem. E aqui é necessário levar o mal e
o bem para além do maniqueísmo, mas para a reflexão sobre a genealogia do que é
dito, feito, posto...no sentido de plantar e colher.
Logo,
o que se planta na tentativa de se eliminar um dos lados do debate – seja ele
qual for! – pode ser tudo, menos uma busca por colher democracia. Aliás,
qualquer tentativa de imposição de conceitos enxergando a democracia como um
produto que só possível por uma via, é esquecer que ela é um processo, com seus
defeitos, com suas falhas, mas um processo aberto ao aperfeiçoamento por meio
do debate e não de outra forma. Mas, andam querendo criar sinônimos para
democracia que nada tem de democrático.