terça-feira, 30 de abril de 2013

Dos que abandonaram a condição de bípedes!


Sou um admirador da obra do escritor português e Prêmio Nobel da Literatura, José Saramago. Por qual razão abro este texto afirmando isto? Bem, para falar de um assunto que necessariamente não é Saramago, mas sim sobre honestidade intelectual. Explico...

Saramago possui uma visão sobre política que é totalmente divergente da minha. Quando o assunto é religião temos mais pontos divergentes que convergentes; mas, graças a inteligência de Saramago pude reforçar argumentos meus e abrir um amplo campo de pesquisas sobre diversos assuntos, além de admirar uma Literatura de beleza extrema na forma singular com que este escreve. Sei que terão os que discordam de mim. E isto é muito bom! Bom que tenha.

Porém, seria de uma desonestidade – daqueles que discordam de Saramago! – não reconhecer sua importância ou sua obra. Saramago é exemplo aqui. Tem muitos outros!

O que significa dizer que um debate deve ser feito sem subterfúgios. Mas, de forma franca e reconhecendo os valores que norteiam o outro lado, sempre! Mas, isto vem sendo abandonado. É algo – inclusive – que fez com que eu me afastasse das redes sociais e – cada vez mais – me propusesse a debater só com quem de fato entra em uma discussão querendo confrontar (no bom sentido) os argumentos.

Quem vem de sola para um debate já na postura de “vencedor” e “por ter coisas a revelar sobre os supostos interesses de forças ocultas (quem paga!) do outro” já é – por si só – um derrotado. Um vigarista intelectual de primeira grandeza que despreza o que é dito para atacar quem diz; que finge debater, quando – na verdade! – despreza o debate. O desonesto intelectual em essência não quer contrapor, não quer trazer luz à discussão. Quer iludir e aniquilar o oponente. Mistura alhos com bugalhos e proclama a si mesmo o vencedor por ter esmiuçado as teses de conspiração que ele mesmo cria para invalidar o argumento alheio.

E assim surgem as mais belas teorias da conspiração, que encantam o público e – numa cartilha que a História comprova – uma mentira repetida até virar verdade. E há seres assim na DIREITA, na ESQUERDA e no CENTRO. EM TODO CANTO! Para estes, os inimigos não possuem nomes (por questão de estratégia!), são sempre identificados por expressões genéricas por demais, mas propícias a uma visão maniqueísta, onde os “reveladores” são o bem. São os atletas a carregarem a tocha da verdade à próxima pira olímpica de onde iluminarão os alienados. Serão considerados alienados, burros, tapados, ignorantes, maledicentes, ou à serviço do mal, todos os que não acreditarem neles.

Eles não possuem contraditório; eles possuem sempre adversários maldosos que agem por interesses escusos destas classes maquiavélicas sempre “reveladas” – notem bem! – em expressões genéricas. Algumas delas: as “elites”  (como se entre os desonestos intelectuais também não existissem ricos ou até intelectuais; ou seja: elite cultural e econômica; ou como se não dependessem e governassem para estas mesmas elites), o PIG (como se eles não fossem fomentadores de uma esgotosfera patrocinada com dinheiro público para ter blogs, tuiteiros e faceboqueiros; além de difamadores e caluniadores com carteirinha e sindicato) e por aí vai...

Ora, ora...há desonestos intelectuais que – aparentemente – defendem princípios que eu defendo, tidos como mais conservadores e reacionários. Há sim! Há quem use tais defesas como subterfúgios para outros interesses que a vigarice não permite revelar. Mas, eu não nego este fato. Pelo contrário, os critico veementemente; os denuncio! Por que o BEM e o MAL não se define por um caminho maniqueísta.

Um exemplo da desonestidade intelectual: usar os argumentos dos bons ventos da economia para varrer para baixo do tapete o discurso dos planos petistas de interferência no Judiciário! Ora, ainda que a economia esteja mil maravilhas (o que não está) e que isto – o que não é!!!! (mas não acreditem em mim; pesquisem, pois até a história os vermelhinhos querem apagar) – seja mérito do Partido dos Trabalhadores, não significa um cheque em branco para que partido e governo se amalgamem com o norte definido de enfraquecer instituições democráticas. Simples assim!

E a crítica e o debate são válidos, por demais!

E se aqui afirmo isto; se o que afirmo incomoda, amanhã poderão vir àqueles que ao invés de rebaterem o que aqui coloco, traçarão uma lista de adjetivos que lançarão sobre mim os mais sórdidos interesses. Estarei eu a serviço da elite, serei mais um tentáculo do PIG e por aí vai...ou seja, elevam a desonestidade intelectual ao quadrado, mesmo eu tendo reconhecido – lá em cima – que há alguns desonestos que, aparentemente, possuem o meu mesmo ponto de vista. Mas, só aparentemente!

Mesmo eu afirmando lá em cima que entre os que discordam de mim, há honestos intelectuais. Sabe por que? Porque para estes não interessa a verdade, mas a CAUSA, a IDEOLOGIA, o PLANO. Não há debate para eles, mas uma guerrilha por poder, onde o que importa é a vitória. Ainda que para isto os argumentos sejam completamente desprezados ou distorcidos. São ignorantes funcionais e sistêmicos que conduzem o plano do partido, por vezes, até como inocentes úteis.

Ora, para o militante cego o partido – qualquer um, independente de lado! – é uma puta cega que nunca perde o hímen. E aí, este militante – que só age em nome do BEM, claro! – começa digerindo IDEOLOGIA, depois de um tempo passa a comer GRAMA. Não me espantará se dentro deste processo evolutivo, ele contrarie Charles Darwin, abrindo mão de ser bípede e se coloque de quatro em nome do partido.

Com a esquerda séria, tenho divergências! Debato, sempre! Com a desonesta por natureza, não há como debater. É mostrar a vigarice e esperar para ser xingado. Com alguns que defendem liberdades individuais garantidas, alguns valores tidos como conservadores de forma séria, tenho convergências. Com os desonestos – ainda que neste campo – é mostrar a vigarice e esperar para ser xingado do mesmo jeito.

Com os sérios, os aprendizados. Aprendizado sempre; pela convergência e pela divergência. Aos vigaristas, o desprezo. É possível sentir nos xingamentos provenientes do arroto destes o cheiro da GRAMA!

terça-feira, 9 de abril de 2013

Se puder, escreva...se não puder, também escreva!


Escreva quando a dor parecer ser insuportável. Quando diante da solidão extrema dos teus pensamentos o mundo parecer tão indiferente. Quanto não houver palavra para o que se sente de forma tão urgente a necessidade de expressar. Escreva, que as palavras mostraram muita coisa em suas entrelinhas. Haverá linhas tortas por entre as pautas que servem de guia. E estas – de repente – irão te guiar...

Linhas tortas que tão pouca gente vai conseguir avistar, mas que vai aliviar esse vazia e esta grande ausência de sentido para uma estrada que tu atravessas, sem estada, sem porto, sem porta aberta. Serão estas linhas tortas – que como flores inesperadas – apontaram um jardim em algum lugar. Que te fará respirar de forma mais lenta, a cada batida de dedo no teclado, a cada palavra posta com força, como se fosse uma batalha...escreva, coloque a alma do lado de fora, ainda que não tenhas a quem mostrar.

Os textos são como pontes que atravessam oceanos inteiros. Revelam muito de nós! Tanto que nem todos os leitores saberão enxergar. Tanto que muitas vezes para ti mesmo será surpresa o tanto quanto tu tens a compartilhar. O quanto pessoas te darão as mãos, mesmo que não as conheça. Só quem escreve sabe o quanto um texto pode salvar.

Escreva: em guardanapos, no computador, em pequenos papéis, em rascunhos, que podem até ser que desapareçam, mas que em algum canto teu continuarão a brilhar. Um sol diante daquela indiferença. Um local de descanso para quando o céu parece querer desabar.

E ainda que não seja a tradução perfeita, é porque não existe tradução perfeita...

Ainda que não tenhas algo a dizer em particular, deixe que saiam as palavras. Deixe o silêncio de uma madrugada te levar. Só quem sabe mergulhar em seu próprio silêncio, viver suas luzes e sombras, suas próprias fúrias e silêncios, saberá com o tempo, que temos tanto a aprender... quanto a ensinar.

Que cada texto solto nesse universo infinito, algum dia e em algum tempo encontrará o seu lugar. Aquela palavra que te acolheu em um dia frio e sem perspectivas, abrirá portas para quem se sente encolhido e sozinho em uma ilha. Será uma estrada – ainda que singela! – para uma janela aberta, para um horizonte escondido entre nuvens...

Escreva para limpar o céu, para conhecer a si mesmo, para se doar...

Se eu puder dar um conselho em dias trises, é este: escreva, escreva, escreva...se tanta gente tem tanto a nos dizer, pode acreditar: também temos tanto a nos dizer, temos tanto a nos ensinar, temos tanto de escondido dentro de nós mesmos, temos luz na medida certa de cada sombra que teime em nos enfrentar...

E é justamente por isso, que a escrita pode muitas vezes ser a ferramenta perfeita para mostrar que os gigantes são só moinhos de vento. Pode nos fazer enxergar a nós mesmos de um lugar privilegiado, quando retornamos ao texto produzido como um reencontro com um velho conhecido, que estava a nos esperar para seguir em frente; para enfrentar.

Escreva! Jogue uma garrafa com a mensagem no oceano desta vida; pode demorar; podem passar horas que se pareçam infinitas, mas terá sempre um reencontro à vista. Escreva como uma forma de usar a alma pelo lado de fora; escreva na solidão do quarto, ou na multidão que caminha de forma tão enlouquecida.

Por vezes, faça das páginas uma pequena ilha. Por vezes, seja também insular. Acredite que as palavras possuem esta forte magia. E na possibilidade e escrever, jogue o texto no ar. Fale sozinho; achar a frase certa muitas vezes é como encontrar uma chave e sua respectiva porta ainda que em um beco sem saída. Foi assim tantas vezes na minha vida. Escreva, é o conselho que tenho a dar...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Dos argumentos e da vigarice intelectual


 Nenhum argumento pode servir de sustentação à intolerância às ideias que não são consenso. Por mais que tais ideias sejam sem sustentação por parte de quem as articulas. Tais pensamentos devem ser rebatidos com argumentos. Estes por si só mostrarão a fragilidade da tese por meio do contraditório.

É o que manda o espírito democrático, pautado por princípios fundamentados na honestidade intelectual. Eu creio nisto! Não suporto vigarice intelectual seja com quem for. Seja para com aqueles que concordam e possuem pensamentos semelhantes aos meus; seja para com aqueles com os quais possuo divergências sadias.

Aliás, para os com quem divirjo – quando com honestidade intelectual – vai minha mais profunda admiração por aceitarem o debate e ainda assim se manterem afáveis, generosos e humildes para com o aprender e o passar conhecimento. Agora, nunca levarei flores a quem deseja sambar no meu túmulo.

Digo isto, por sempre ter em minha mente uma frase de Santo Agostinho (como gostaria de ter sido o autor desta): “prefiro os que me criticam, pois me corrigem, aos que me adulam, pois me corrompem”.

Neste sentido, minha ojeriza à intolerância se faz por reconhecer que a democracia garante o direito da livre manifestação de todas as ideias, desde as imbecilidades às mais inteligentes. Afinal, é muito fácil lutar pela garantia dos direitos das santas. Difícil é reconhecer que tais garantias também são dadas às putas, desde que não firam ou coloquem em risco às liberdades individuais de ninguém; ou o Estado Democrático de Direito.

O que me preocupa hoje em muitos discursos – sobretudo os “politicamente correto” e de “protestos progressistas” – é a tendência (quase um fetiche) de se aniquilar o oponente. E o pior, quem vive a fazer tal discurso se sente ofendido quando não é retribuído com flores e com aplausos. Acha que pode agredir por ter a suposta razão apoiada em um consenso.

O pior da unanimidade – muitas vezes! – não é a tendência à burrice, mas achar que o unânime é o suficiente para legitimar a violência em nome de causas. Já vimos o nascer neste espírito na humanidade. Ele sempre se encarnou em totalitarismos. Aí reside o perigo! Se a razão está contigo, caro amigo, abandone os adjetivos e as palavras de ordem. Construa democraticamente o contraditório e a defesa com argumentos. Por que o aniquilamento do oponente, muitas vezes físico se assim encontrarem brecha?

Ou pior; a pior das vigarices intelectuais: se defender do que não foi dito (ou escrito) para passar a impressão, aos preguiçosos de plantão que não vão às fontes - aos originais - que o oponente disse aquilo que eles tanto desejavam que tivesse sido dito.

É por isto que nestes tempos a democracia adoece, como bem colocou Reinaldo Azevedo em seu texto de hoje. Faz com que se transversalize e relativize princípios, valores, honestidade intelectual, ética (como conduta) em nome de algo que é julgado superior pelos “progressistas de plantão e os politicamente corretos”: uma CAUSA.

O perigo é a CAUSA se tornar o único alicerce sobre o qual se sustentará o Estado, sendo este até mesmo maior que a Democracia. Assim, nascerão as exceções que permitirão ou não certas ideias a depender do juiz da CAUSA. E os senhores que hoje são os MAIS INTELIGENTES por revelarem o CAMINHO do BEM a um povo... nada mais serão do que os CAVALEIROS INEXISTENTES de Ítalo Calvino. Sumirão suas consciências na hora certa para cumprirem a função de tentáculos do aparelho posto e nada mais.

Pensem com carinho neste desenho de futuro...

terça-feira, 2 de abril de 2013

Um guardanapo, um aviãozinho de papel e a fuga da ilha


Sempre rabisco poemas em guardanapos como se fossem projetos arquitetônicos de uma ponte imaginária que levarão a algum lugar…

Sabe-se lá se para um terreno desconhecido. O obscuro lado da lua; ou de si mesmo…

Sabe-se lá...

Às vezes é uma ilha; às vezes a fuga de um estágio mais insular. Uma ponte perdida para a tradução de um momento; para o exorcismo de alguns demônios...

Um poema como se fosse uma carta que nunca vou mandar!

A maioria destes versos nunca são (nem nunca serão!) publicados; mas parecem ocupar um lugar no espaço, com frases que eu repito para mim mesmo, nos mais diversos momentos. Como mantras para superar os dias mais difíceis, como suporte para as quedas inevitáveis...

...como a certeza de que aqueles que quiseram me ver cair terão que engolir seco minha coragem de sempre levantar!

São assim os poemas: espinhos e almofadas, líricos e ásperos, idealizações e tão reais...com tanto a dizer que, quando lido anos depois, dizem coisas totalmente diferentes do que quando no dia em que foram escritos...

Os poemas não são escritos...são “ex-critos”. O ex de externo, de colocar para fora, de expulsar. É usar a alma pelo lado de fora  em dias que nos cobram tantas couraças para suportar a desonestidade, a falta de respeito, a indiferença, a inveja, enfim...

Os guardanapos rabiscados a cada café são refúgios meus. Sorte minha de ter essa relação com as palavras! É assim que me reeduco, é assim que sigo. É assim que me refaço diante dos baques...e por falar em quedas, quem não tem as suas quedas livres de alturas inimagináveis...

Transformar queda em voo; emparedamento em oportunidades...eis outra tarefa nobre que acabo encontrado nas entrelinhas das linhas tortas em um guardanapo. Se Deus escreve por linhas tortas, com total certeza ele rabisca em guardanapos.

Foi num guardanapo e com uma Bic azul que eu aposto que – se há um Deus! – Ele desenhou o céu com luas e estrelas. Minhas palavras buscam desenhar o sol quando o dia teima em nublar; ou de equilibrar com algumas nuvens quando o sol é tão forte que teima em cegar...

Afinal, holofotes tanto cega quanto iluminam! Afinal, a diferença entre o remédio e o veneno pode ser a dose! Eu preciso de óculos para corrigir minha visão; mas não suportaria ter a visão perfeita de uma águia. Seria incapaz de ver o que há de mais belo no mundo, apesar de enxergar tudo de forma tão perfeita. Eis uma metáfora já posta em guardanapos!

Já falei sobre estes rabiscos em guardanapos aqui uma vez! Volto ao tema, sabe-se lá por qual razão...creio eu por ser agora um daqueles momentos insulares em que preciso mandar sinal de fumaça para algum lugar. Será que ele chegará aí? Se você leu, se você me compreendeu...funcionou a ponte projetada neste guardanapo virtual. Alguém deu o nome de blog, né? Plataformas, apenas plataforma. O conteúdo é que é – e sempre vai ser – ponte para algum lugar.

Unir corações.

É como pegar um guardanapo rabiscado e com ele fazer um aviãozinho de papel e lançar no ar. Obrigado a você que lê. No momento em que o aviãozinho de tocar estarei sendo menos insular!