Cresce
nas redes sociais – para o meu espanto – cada vez mais o número de pessoas que opinam
sem sequer conhecer detalhes (ou até mesmo a superficialidade) do que estão
opinando. É a turma que vai na onda, impulsionada por falas de “artistas” e de
outros tão superficiais quanto.
E os
temas vão – como diria um amigo – “da construção de navios ao acasalamento dos
mosquitos”. Não bastasse a superficialidade, é um tipo de gente que “rosna”
diante da exposição do conhecimento aprofundando.
Se o
texto ultrapassa uma quantidade “X” de caracteres, ou cita fontes, ou aconselha
leituras para o aprofundamento da questão, já se fez o suficiente para se ganhar o rótulo de pedante,
arrogante, facista, ou algo que valha. Sequer o significado dos adjetivos – que
consta em qualquer simples dicionário – é respeitado.
Joga-se
o contexto fora e para afastar a luz do conhecimento ou o argumento; qualquer
adjetivo é muito bem-vindo. Assim, eles rosnam. Não abrem um milímetro do
círculo edificado pela cegueira para não correrem o risco de estarem errados.
Afinal, se o mundo destas criaturas desabar, o que será delas?
Lembram
as sombras e os enfurnados na caverna de Platão. Não aguçam a inteligência o
suficiente. Com isto, jamais perceberão o quanto são adestrados. Já disse aqui:
se há algo que quanto menos você usar, menos você sentirá falta, este algo é a
inteligência.
O
círculo de intelectuais adorados por esta gente são aqueles que sempre vão
beber na mesma fonte. Assim, eles são capazes de falar de socialismo e
comunismo sem ler Karl Marx. São capazes de estraçalhar as opiniões de um
escritor sem nunca ter lido seus livros. O contrário também são capazes de
fazer. São revolucionários! Tão revolucionários que começam a casa pelo teto e
dispensam alicerce.
Quando
confrontados, possuem suas táticas de guerrilha: diante da incapacidade de
entender o argumento de quem debate com eles, inventam algo que você não disse
para se defenderem do que gostariam que você tivesse dito. Aliás, estas são as
principais armas da vigarice intelectual: adjetivar, inventar, propagar a
invenção, se defender da invenção, tornando o outro o mal que precisa ser
combatido. Diante deste cenário, obviamente que estas criaturas dóceis acabam
ficando com o monopólio das virtudes.
Como
não acredito em conhecimento sem esforço, vejo nas fontes, nos livros, nos
documentos, na lógica, na racionalidade, na busca pela verdade, a forma mais
correta de empreender na filosofia. É desnecessário afirmar que a leitura – de
clássicos, inclusive! – para isto é fundamental. Por isso aplaudi tantas vezes
Narloch, Laurentino Gomes e outros pela iniciativa de revisitar e escrever
sobre nossa história de maneira tão embasada. Sem os fetichismos ideológicos.
Eles deram aula a muitos acadêmicos de meia-tigela.
Por
isto que eu tenho uma paixão por livros. Não nego. Prefiro passar pelo arrogante
falando das minhas leituras e do que conclui com base nelas, a ter que aderir
ao mundo do “heroico apedeutismo”, que vem sendo motivo de orgulho de muitos
revolucionários nas redes sociais.
Que
se conservem espalhados os meus livros pela casa. Sempre sobre os mais variados
assuntos. No dia em que eu quiser opinar sobre a construção de navios, lerei
muito sobre o assunto antes. Incluindo o que há de mais moderno e mais
clássico. O mesmo vai ocorrer quando precisar falar sobre o acasalamento dos
mosquitos.
Escrevo
citando livros, pensamentos pré-existentes em relação ao meu, mostrando fontes
que me respaldam e indicando as que se divergem do meu pensamento, por
acreditar que a base para qualquer discussão vem do estudo sério. Repito: “não
acredito em aprendizado sem esforço”.
Defendo
isso – sobretudo no jornalismo – e admiro quem estuda em suas áreas, quem perde
noites de sono longe da sociedade do espetáculo – tão bem descrita em excelente
livro de Vargas Llosa, que leva esse título – para tentar chegar a um
pensamento. Chegar a um pensamento no sentido socrático mesmo, no sentido da
maiêutica. Sem filodoxias.
Sempre
elogiei pessoas que possuem essa preocupação. Como os estudos de Boaventura de
Sousa Santos (com quem tenho divergências de pensamento) e sua honestidade
intelectual. São frutos das pesquisas dele.
Quem
opta por este caminho – que não é fácil, pois requer tempo, sacrifício e
paciência – verá que vai ter opiniões menos vazias, verá o mundo de forma
melhor, mais liberta de chavões ideológicos, de premissas mal colocadas, de
contextos construídos propositadamente. Será mais rico de um sentimento que
impulsiona a busca pela verdade sem querer impor. Isso sim é humildade.
Humildade
diante do conhecimento. Quem quer algo diferente disto, não quer humildade.
Quer serventia! Arrogância – na verdade – é querer impor um ponto de vista sem
nada que o sustente, baseando-se apenas na cegueira alheia e no próprio achismo.
Se em terra de cego, quem tem olho é rei. Em terra de leitores, é possível o
olhar crítico para se apontar que o rei está completamente nu!