quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Diálogo entre eus


Nas minhas crônicas insônias
Há universos paralelos que crio sem dormir
Ao imaginar como poderia ter sido
Se eu tivesse feito diferente tanta coisa que já fiz

Quantas vezes fui injusto
Comigo mesmo e com tantos outros que passaram por aqui
Quantas palavras desperdicei
Quantos silêncios esperaram uma palavra certa sair
Quantas vezes me droguei
Quantas vezes me matei para poder prosseguir

Mas eu não quero voltar
Apesar de dialogar constantemente
Com outros  eus dentro de mim
Outros que ficaram para traz
Outros que poderiam ser mais ricos e acertado mais
Outros que poderiam ter ignorado tudo que vi
Poderiam ter passado batido pelos erros que cometi

Mas só existe uma chance
Uma decisão, um momento e só
Meus erros e acertos me fizeram dar um nó
Que talvez nem desate mais
Algo que me prendeu a ti

Que apesar de eu conversar
Com outros eus que ficaram por aí
É com você que eu quero estar
Para abrir a janela para o que futuro vai nos reservar
É com você que eu quero envelhecer
Segurando sua mão no sofá

Sem desejar nada além dessa vida que já ousou nos juntar
Entre tantos erros e acertos que nos colocaram neste lugar
No momento exato em que pude te avistar
O momento em que descobri que já não dava para voltar
No momento em que tudo perde o sentido se você sair

E eu que tenho tantos defeitos
Tantas idiossincrasias  como os dias sem conseguir dormir
Como a solidão estranha que sempre carrego por aí
Como o pessimismo latente por mais que eu tente fugir
Quem diria que o teu olhar refletiria a felicidade tão fácil assim

Se eu tivesse só uma chance de voltar
Uma nova decisão, um novo caminho a traçar
Eu faria tudo igual quantas vezes fosse preciso
Até te encontrar novamente na esquina em que te vi
Pode ser difícil de acreditar
Mas sem você eu jamais teria conhecido o melhor de mim

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Dos livros e da arrogância...


Cresce nas redes sociais – para o meu espanto – cada vez mais o número de pessoas que opinam sem sequer conhecer detalhes (ou até mesmo a superficialidade) do que estão opinando. É a turma que vai na onda, impulsionada por falas de “artistas” e de outros tão superficiais quanto.

E os temas vão – como diria um amigo – “da construção de navios ao acasalamento dos mosquitos”. Não bastasse a superficialidade, é um tipo de gente que “rosna” diante da exposição do conhecimento aprofundando.

Se o texto ultrapassa uma quantidade “X” de caracteres, ou cita fontes, ou aconselha leituras para o aprofundamento da questão, já se fez o suficiente  para se ganhar o rótulo de pedante, arrogante, facista, ou algo que valha. Sequer o significado dos adjetivos – que consta em qualquer simples dicionário – é respeitado.

Joga-se o contexto fora e para afastar a luz do conhecimento ou o argumento; qualquer adjetivo é muito bem-vindo. Assim, eles rosnam. Não abrem um milímetro do círculo edificado pela cegueira para não correrem o risco de estarem errados. Afinal, se o mundo destas criaturas desabar, o que será delas?

Lembram as sombras e os enfurnados na caverna de Platão. Não aguçam a inteligência o suficiente. Com isto, jamais perceberão o quanto são adestrados. Já disse aqui: se há algo que quanto menos você usar, menos você sentirá falta, este algo é a inteligência.

O círculo de intelectuais adorados por esta gente são aqueles que sempre vão beber na mesma fonte. Assim, eles são capazes de falar de socialismo e comunismo sem ler Karl Marx. São capazes de estraçalhar as opiniões de um escritor sem nunca ter lido seus livros. O contrário também são capazes de fazer. São revolucionários! Tão revolucionários que começam a casa pelo teto e dispensam alicerce.

Quando confrontados, possuem suas táticas de guerrilha: diante da incapacidade de entender o argumento de quem debate com eles, inventam algo que você não disse para se defenderem do que gostariam que você tivesse dito. Aliás, estas são as principais armas da vigarice intelectual: adjetivar, inventar, propagar a invenção, se defender da invenção, tornando o outro o mal que precisa ser combatido. Diante deste cenário, obviamente que estas criaturas dóceis acabam ficando com o monopólio das virtudes.

Como não acredito em conhecimento sem esforço, vejo nas fontes, nos livros, nos documentos, na lógica, na racionalidade, na busca pela verdade, a forma mais correta de empreender na filosofia. É desnecessário afirmar que a leitura – de clássicos, inclusive! – para isto é fundamental. Por isso aplaudi tantas vezes Narloch, Laurentino Gomes e outros pela iniciativa de revisitar e escrever sobre nossa história de maneira tão embasada. Sem os fetichismos ideológicos. Eles deram aula a muitos acadêmicos de meia-tigela.

Por isto que eu tenho uma paixão por livros. Não nego. Prefiro passar pelo arrogante falando das minhas leituras e do que conclui com base nelas, a ter que aderir ao mundo do “heroico apedeutismo”, que vem sendo motivo de orgulho de muitos revolucionários nas redes sociais. 

Que se conservem espalhados os meus livros pela casa. Sempre sobre os mais variados assuntos. No dia em que eu quiser opinar sobre a construção de navios, lerei muito sobre o assunto antes. Incluindo o que há de mais moderno e mais clássico. O mesmo vai ocorrer quando precisar falar sobre o acasalamento dos mosquitos.

Escrevo citando livros, pensamentos pré-existentes em relação ao meu, mostrando fontes que me respaldam e indicando as que se divergem do meu pensamento, por acreditar que a base para qualquer discussão vem do estudo sério. Repito: “não acredito em aprendizado sem esforço”.

Defendo isso – sobretudo no jornalismo – e admiro quem estuda em suas áreas, quem perde noites de sono longe da sociedade do espetáculo – tão bem descrita em excelente livro de Vargas Llosa, que leva esse título – para tentar chegar a um pensamento. Chegar a um pensamento no sentido socrático mesmo, no sentido da maiêutica. Sem filodoxias.

Sempre elogiei pessoas que possuem essa preocupação. Como os estudos de Boaventura de Sousa Santos (com quem tenho divergências de pensamento) e sua honestidade intelectual. São frutos das pesquisas dele.

Quem opta por este caminho – que não é fácil, pois requer tempo, sacrifício e paciência – verá que vai ter opiniões menos vazias, verá o mundo de forma melhor, mais liberta de chavões ideológicos, de premissas mal colocadas, de contextos construídos propositadamente. Será mais rico de um sentimento que impulsiona a busca pela verdade sem querer impor. Isso sim é humildade.

Humildade diante do conhecimento. Quem quer algo diferente disto, não quer humildade. Quer serventia! Arrogância – na verdade – é querer impor um ponto de vista sem nada que o sustente, baseando-se apenas na cegueira alheia e no próprio achismo. Se em terra de cego, quem tem olho é rei. Em terra de leitores, é possível o olhar crítico para se apontar que o rei está completamente nu!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Do pouco que busco; do que de belo eu encontro

Zaratustra – do filósofo Nietzsche – coloca que, em nossa trajetória, podemos demorar muito tempo até nos depararmos com o que realmente queremos e o que dá sentido às nossas vidas. Até nos olharmos como expectadores de nossa própria existência nos sentindo bem à vontade com essa presença no mundo. Este encontro que é a arte da vida, entre tantos desencontros, como diria o poeta Vinícius de Moraes, nos traz um sentido para o que fazemos, para o que queremos e para onde vamos, ainda que o fim da existência seja igual para absolutamente todos os viventes.

O profeta Zaratustra ainda segue em sua reflexão. Coloca que – ainda que se demore muito para encontrar se quer da vida – quando nos deparamos com este achado, não podemos recuar. Não podemos abrir mão! Caso contrário, teremos uma derrota que significa morrer antes da morte! Estar neste espaço metafísico que dá sentido a existência não é fácil. O mundo não vai abrir mão – com seus acontecimentos, com seus seres aflitos e alimentados pelo ódio e pela inveja – das tentativas de nos roubar o norte.

Precisamos lembrar sempre da “alegria limpa” de agir de acordo com a consciência. Não perder de vista. Foi isto que me fez escolher o jornalismo. Levou-me a exercer esta atividade de forma tão singular; e me deixa cada vez mais distante da forma como é praticada hoje. Não digo isto por arrogância ou por querer julgar as múltiplas formas de se pensar jornalismo. Acho-as válidas e necessárias ao debate. Não digo que a minha maneira é a correta. Digo apenas que no exercício da minha labuta, sempre procurei a objetividade, a honestidade intelectual para com o leitor e o estudo aprofundado dos assuntos que decido abordar.
Além da consciência limpa ao final de cada texto.

Fiz do meu texto, um texto que é realmente meu. Que não precisa de assinatura para estar assinado. Disto, orgulho-me. É isto que luto diuturnamente para não perder, porque sei o quanto demorei para chegar aqui e para afirmar – com todas as letras – que é o que quero de minha vida. Agora, não vou recuar. Ainda que eu me sinta em uma ilha quando defendo algumas ideias sobre o exercício da profissão e as argumento com o público.

O que me causa estranheza, hoje em dia, é a quantidade de “profissionais da pena” que usam o jornalismo como cavalos selados sempre a serviço de um montador. Uma ideologia, um parido, um recibo...e por aí vai. Apequenam-se enquanto seres humanos, fingem ser pensadores, arrogam para si uma pseudo-intelectualidade em função da profissão que exercem, arrotam verdades sem possuir domínio sequer sobre o que pensam. É triste. Lambuzam-se no mel das fontes em busca de seus palcos e vitrines.

Infelizmente, com o pensamento crítico é assim: quando menos você usa, menos vai sentir falta dele. Com isto, acaba se acostumado com as “verdades” e “chavões”, sem a necessidade da busca a qual me referi ao citar Zaratustra neste texto. E aí, surge algo típico das discussões que estão sendo travadas nas redes sociais, hoje em dia: acaba sendo tomado por arrogante aquele que cita suas fontes, as leituras que faz, com forma de embasar seu pensamento; a sua reflexão.

Por que é de se estranhar? Ora, citar tais elementos é dar condições para que todos que queiram acompanhar uma linha de raciocínio possam contribuir ou discordar com mais substância. Neste sentido, a pesquisa, a leitura, enfim...são primordiais para este caminho que tento mostrar aqui. Mas alguns de nossos intelectuais – tão sinceros quanto a “fé” que os patrocinam – fogem disto como o diabo foge da cruz. Será que é preciso explicar o motivo?

São intelectuais que tratam certos estudos como relações secundárias pela razão de não falarem com a alma, com honestidade intelectual. Seus trabalhos servem apenas de palanque para a vaidade, para se lambuzarem em seus celeiros, pelos títulos, com os títulos e para os títulos de uma panelinha que não se encontra, nem se encontrará. São pensamentos nebulosos para sustentar algo maior. Por isso se apóiam no politicamente correto, no monopólio das virtudes, nos chavões e em outras práticas de pura vigarice intelectual.

Fazem parte do bando. Fazem questão de não serem indivíduos. Partem para o típico papel de quem não quer o debate. De quem quer apenas confundir, iludir e doutrinar. Necessariamente nesta ordem.


Quem tiver olhos que veja; quem quiser buscar a si mesmo que não recue, pois não faltarão ataques, por todos os lados e de onde menos se espera. Prestem muita atenção que existem valores – para determinados pensadores – que podem ser deturpados em função da causa. Entre eles, os que motivam os crimes e o que é honestidade.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Ser esta canção, seresta!


Quando um vagabundo sem casa
Descansa as asas; faz ninho em um coração
Um dinossauro entre espaçonaves; ele passa
Por dentro de um tempo que teme qualquer solidão

Por esses novos itinerários
Vejo a nostalgia das erradas previsões
Pego trens que não cumprem horários
Nem sei se chego no futuro ou no passado...
...mas ando chegando com outras opiniões

Não quero causa só para criar caso
Nem sentido para impor ao soldado
Esses coletivos sempre destinados...
...a repetirem os passos...
...rumo ao lugar que não chegarão!

Sigo só sempre sem pressa
Sigo para sempre só; minha balada é essa
Uma canção de contemplação
Que mais parece o silêncio da estrada deserta

Com a queda da chuva vem as incertezas
E o passo sempre aperta
Não sei qual será a melhor vez
Por isso, sempre a melhor vez será esta
Debaixo de tua janela farei todas as serestas

Planejaremos tantos futuros quanto missões
Nossas almas dançarão valsa à luz de velas
Vão contrariar as multidões...