segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Um chão de livros...


Depois de dias de trabalho intenso, num início de tarde de segunda-feira – quem diria! – encontro um pequeno tempo para dar atenção ao Conversas de Quinta.  O espaço se tornou atemporal. Uma garrafa lançada ao oceano, sem hastags e “macetes” para facilitar as buscas. Confesso: eu acabo gostando disso. Não sei quem chegará aqui, por qual razão chegará aqui...enfim...

É legal! Parece sempre os quinze minutos pós-leitura enquanto o sono não vem. Deitado na cama, olhando para o teto, não tem hastags, não tem filtros...o pensamento vai...sem digitar nada na caixinha do site de busca...links completamente aleatórios que acabam trazendo algum tipo de reflexão!

Nesta segunda-feira, por exemplo, estava em busca de um tema para o Conversas de Quinta. Havia o tempo; não havia o tema. Depois de alguns minutos parado, percebo a quantidade de livros que estão espalhados pela casa no momento em que estou de mudança de apartamento.

Lembro da frase da minha esposa, afirmando que preciso encaixotar alguns, doar outros, enfim...já que não vai haver espaço para todos na casa nova. Ainda não realizei o sonho de ter uma biblioteca. Quem sabe um dia, após muitos links aleatórios...quem sabe...

Comecei a folhear alguns dos velhos “amigos”. Olho para cada livro e me lanço o desafio de lembrar quando li. O contexto em que a obra me foi apresentada, que emoções trouxe, que transformações causou. Separo os livros. Primeira categoria: os mais importantes e os menos importantes. Descubro que não dá para medir grau de importância. Putz. Como isso é difícil.

São amigos de momentos distintos. Não dá mais para separar os primeiros anos da adolescência das leituras de Hermann Hesse, por exemplo! Não dá mais para fingir que não li Crime e Castigo. Como encaixotar Dom Quixote? Como mandar Albert Camus para dentro de um móvel fechado? Como não deixar Oscar Wilde “brilhar” na estante...? Como não se emocionar com a capa da Divina Comédia?! E por aí vai, passeando aqui por Espinoza, Kant, Stendhal, dentre outros...

Alguns serão doados após a “arrumação final”.  Espero que caiam em mãos que tenham a mesma paixão que eu tenho pelos livros. Que encontrem almas que saibam o quanto estes abrem novas perspectivas, apresentam um outro mundo possível...enfim...não escondo que é uma difícil separação, mas nesta semana iniciou uma tarefa árdua: separá-los em três categorias objetivas: os que ficarão na estante por serem os que eu mais consulto; os que vão ser encaixotados e guardados por serem os que menos consulto; e os que serão doados por serem edições repetidas e por outros motivos.

Alguém pode perguntar por qual razão alguém teria livros repetidos? Um maluco como eu compra um livro que já leu quando ele ganha um novo tradutor, por exemplo. Um maluco como eu compra um livro que já leu quando surge uma edição comemorativa, por exemplo. Um maluco como eu compra um livro que já leu quando julga que a nova diagramação dada a obra é por si só uma verdadeira obra de arte...e por aí vão os mais variados motivos que talvez um outro apaixonado por livros entenda.

E entre uma pilha de livro e outra, nasce mais um rabisco:

Meus amigos da estante
Dão conselhos a todo instante
Servem de espelho aos navegantes
Um GPS dos errantes...
...aos que buscam alguma salvação...
Meus amigos da estante
encontrarão outras mãos
Que sejam apaixonantes
Como foram nos meus dias de solidão

Aliviam um coração diletante
Que segue em frente enfrentando
Sejam moinhos de ventos ou gigantes
Tantos desafios que mudaram de tamanho

Se tudo é uma metáfora
Se tudo for questão de opinião
Se não houver sentido
Serão eles oásis em dias de desertificação

Daqui da poltrona viaja a imaginação
Vejo o lobo da estepe enfrentar...
...seus cem anos de solidão...
Os cegos do Saramago ensaiam...
...uma visita a montanha mágica...
...escrevem o diário de um ladrão

Daqui da poltrona parece tão real
O retrato de Wilde
Um crime com um castigo tão natural
É sempre um velho sonho...
...de uma noite de verão...