quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O Som do Silêncio


“E a visão plantada em meu cérebro  ainda permanece dentro do som do silêncio”.  Essa frase é de uma canção – Sound of Silence - de Simon and Garfunkel. É uma das minhas canções favoritas, sobretudo nas versões mais calmas, quando se escuta cada corda de um violão e por trás da canção sendo executada justamente “o som do silêncio”.

O “som do silêncio” é a metáfora perfeita para as inquietações investigativas da alma. Os momentos em que somos só nós mesmos em busca de caminho, razão, sentido, raio de luz, direcionamento ou até mesmo um deus em meio ao caos.  Olhar o mundo em busca de uma tradução. Perguntaria Humberto Gessinger: “quem não precisa de uma versão, uma tradução?”. (A frase do compositor gaúcho está no disco O Papa é Pop. A canção chama-se Anoiteceu em Porto Alegre).

E o som do silêncio traz tempestades. São mares bravios que quase ninguém enxerga. Podemos estar sentados na mesa da sala de estar de olhar fixo na parede em branco, mas ainda assim surfando as maiores ondas do Hawaii. Equilibrando-se na prancha. Tentando enxergar o sentido do oceano sendo apenas gota do mar. Mas, tangenciando filosofias orientais, o segredo do oceano pode estar contido na gota. E se tiver, tenho a sugestiva impressão de que pode ser tangenciado com o som do silêncio.

Lembro de um personagem do Mia Couto. Ele sempre me vem a mente quando o assunto é esse. Chama-se Mwanito e é chamado pelo pai de “o afinador de silêncios”. Alguém que só com a presença consegue nos conectar com o som interno.  Para nós, o alguém pode ser alguma coisa ou algum lugar.  O momento em que algo nos coloca em sintonia com um olhar mais filosófico sobre as coisas. Falo de filosofia em si e não da filodoxia, que necessita de uma série de citações de livros e quilômetros de leitura com embasamento catedrático, universitário, acadêmico e o escambau para responder metafisicamente o que o som do silêncio nos revela.

Filosofia é filosofia e ponto final! Filodoxia é para os fracos e nos mares bravios do som do silêncio os fracos não possuem vez, se lançam fácil para cima das boias materialistas. Neste ponto, é sempre mais fácil não ter crença alguma do que crer em algo. Afinal, o que não precisa ser explicado, explicado está por qualquer teoria convincente dita por alguém de óculos redondo e bigodinho.  Eu sigo buscando nos mares bravios.

Estes dias me deparei com um trecho de um livro do pensador Olavo de Carvalho que muito falou de mim e dos questionamentos em dias de som do silêncio. Diz ele assim: “aconteceu que, desde a adolescência, vendo-me sozinho, sem guiamento num mundo confuso e nada acolhedor, logo entendi que, para não me perder de todo, não tinha outro meio senão entrar em acordo comigo mesmo, encontrar logo o centro da minha pessoa real e instalar-me ali com a modéstia mais singela e a segurança absoluta de quem está senado no chão não cai”.

É isto. É de uma humildade diante da sede de conhecer em ambiente adverso que me comove profundamente. E ele ainda segue: “optei pela sinceridade interior não por algum motivo moral elevado, mas por uma simples questão de sobrevivência psíquica”. Eu digo: “idem”.

Foi assim que os livros, as leituras e os momentos de reflexão se transformaram em afinadores de silêncio. Foi assim que busquei escutar muito mais os filósofos do que os que praticam a filodoxia. E aquele é “o crente sincero que faz seu exame de consciência e confessa o que sabe de si mesmo e do mundo”, usando mais uma vez uma referência ao escritor. Aquele que vai de encontro ao questionamento, aquele que se busca e busca. Aquele que se despe das identidades sociais para saber do eu.

O saber não está na cristaleira da sala como frutas de cera. Nem na cristalização dos livros da estante, com fórmulas e doutrinas. Está na capacidade de olhar esse mundo, com tudo o que foi produzido, com o todo que nos é posto, no sentido universal das experiências particulares reais que hão de se revelar diante de tudo o que consumismo com os questionamentos que soam como as chaves dentro do som do silêncio.

Afinal, estamos cercados de tanta desonestidade intelectual, tanta bobagem midiática, tanta mentira programada e orquestrada que se não encontrarmos espaço para em silêncio sermos sinceros com nosso próprio eu, perderemos qualquer sentido.  Cabe a nós o silêncio, rogo para que os meus sempre sejam assim.  Rogo para que eu sempre tenha na quietude de alguns momentos da vida a inquietude da alma me mostrando que no palco da existência o papel que me cabe é o de ser eu mesmo.  E não há identidade social a mim atribuída que seja maior do que esse papel. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Carta aberta aos amigos...


Caminhar na vida é acumular. Não deixa de ser. É trazer experiências, reflexões e saber superar os próprios karmas (em um sentido metafórico) da existência e de suas circunstâncias. Perdas & Ganhos, poderia dizer alguns. No pain, no gain: um outro ditado. Eu diria que até as perdas revelam ganhos a depender do ponto de vista. Por quantas vezes, o fim do mundo era só uma placa na autoestrada com a inscrição “bem-vindo ao mundo novo”.

Nem as lembranças que acumulamos são fiéis ao fato que as geraram. As interpretações que damos, os filtros que trabalham tais fotografias fazem com que cores especiais sejam ressaltadas. Nossas lembranças nos levam a aprendizados fantásticos. Muitas vezes, um mesmo fato nos empurra para várias lembranças, para cores diferenciadas, para interpretações múltiplas, para vários aprendizados. E lá vamos nós acumular.

Somos passageiros e bagagens. Por mais que estejamos parados. Caminhamos e acumulamos, muitas vezes sem domínio sobre o que devemos levar e o que temos o poder de deixar para trás. Sou capaz de apostar que o passado que enxergamos hoje, não é de fato o passado que aconteceu. Sou capaz de apostar que a busca por um sentido interfere de maneira decisiva na compreensão do passado, na forma como enxergá-lo, na dimensão que damos a alguns fatos que na visão de um terceiro poderia ser tido até como algo imperceptível a olho nu.

Por sinal, os maiores acontecimentos – afinal, a morada dos “deuses e demônios” são os detalhes! – estão invisíveis ao olho nu. Mas, saltam aos nossos olhos de forma impressionante. Dão peso, volume, densidade à bagagem e  nos ajudam a enxergar sentido no caminho. Olhar para trás é interligar pontos. Um porquê, um como, um motivo, uma razão, uma missão, enfim...chegamos até aqui!

Lembra-me uma trecho de uma canção do cantor e compositor Humberto Gessinger: “se eu soubesse antes o que sei agora, erraria tudo exatamente igual”.  Frase simples, mas genial. Aliás, como toda a simplicidade que é cirurgicamente precisa. Às vezes, o complexo é só alegoria e a simplicidade água pura que mata a sede e nada mais!

Com o tempo, com o acumulo dos dias a gente vai aprendendo – se tivermos o interesse de aprender – a separar o joio do trigo nessa área tão empestada de intelectuais que acumulam milhas ao devorarem livros, mas nunca se destinam a uma viagem por conta própria, se é que vocês me entendem.  Eu posso estar completamente errado, mas não deixo acumular milhas no cartão de crédito...

E nessa autoestrada (tomando como gancho o texto anterior) se tem uma coisa que me orgulho de trazer na “bagagem” é o milagre de desfrutar plenamente desta indefinível relação entre os humanos que o dicionário na ausência do poder de definir melhor chama de amizade. Eis o milagre mais belo com o qual pude me deparar. Não tenho muitos amigos, mas trago a certeza de que tenho os melhores.

Orgulho-me deles. São os que ajudam no caminho, são os que ajudam a olhar o retrovisor.  Acho que Voltaire fala melhor que eu sobre este assunto. Diz ele que a amizade é contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Lembrando que os sensíveis podem ser pessoas de bem e mesmo assim não conhecerem a amizade, daí a necessidade de usar todo este acumulo de experiência, toda a bagagem no sentido de fortalecer as virtudes, o bem, nos tornarmos melhor do que nós mesmos.

Pois são estas que nos diferenciarão dos demais ao longo da jornada. Nesta autoestrada – bem lembra Voltaire – que os malvados caminham com cúmplices, os festeiros com companheiros de farra, os ambiciosos só terão sócios, os políticos vão com seus partidários, os vagabundos com os lucros de seus contatos, os príncipes com os puxa-sacos e os que enxergam o virtuoso da vida caminharam sempre com amigos.

Eis o que de mais belo trago, eis o que de mais belo procuro oferecer a quem comigo caminha, caminhou e caminhará. Por isto, apesar de eventuais derrotas, as perdas me revelaram o que de melhor eu sempre tive: amigos!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O medo e a autoestrada...vamos lá!


Tenho um medo terrível de autoestradas. Nunca gostei de dirigir e o pavor de longos trechos com uma velocidade acima da “minha” média – que é mínima - me assusta demais. Mas, sempre acreditei que devemos enfrentar nossos limites, mostrando que somos maiores que nossos medos. Isto faz com que eu enxergue o medo – que por vezes é o outro lado da moeda quando uma das faces é a coragem – como algo sadio.

Um alerta sobre o qual podemos racionalizar e assim superar. O medo não pode paralisar. Ouvi essa frase – assim de forma simples! – em uma canção dos Engenheiros do Hawaii. O último CD da banda até o presente momento. A canção chama-se Quebra-Cabeça. O verso completo é o seguinte:

Pode estar no ponto
Ponto de interrogação
Pode ser encontro
Ou separação
Pode correr risco
Arriscado sempre é
Só não pode o medo te paralisar

É um sentimento semelhante com o qual me deparo quando pego a autoestrada. Sempre um desafio que eu mesmo estou me impondo. Sempre um medo que estou vencendo e não me paralisando. E sempre, entre o ponto de partida e o ponto de chegada, um ponto de interrogação.

Por mais que o caminho seja o mesmo, nunca é a mesma viagem. Metaforicamente e literalmente também. Os pontos de passagem, os imprevistos possíveis em uma autoestrada, o posto de combustível onde vamos parar, o que escolher para comer, as conversas que terei – com quem me acompanha – até chegar ao local esperado. Tudo isso vai auxiliando a desafiar o medo e a não paralisar. Quando menos se espera a viagem finalizou e chegou satisfeito comigo mesmo ao fim da jornada.

Para mim é a autoestrada. Pode ser uma bobagem para o leitor que se depara com este texto neste momento. Mas, para você, caro leitor, tal desafio pode não ser a “highway”, mas algo bem simples mesmo. Tenho um amigo – por exemplo – que este desafio consiste em ir a locais com grandes multidões. “Toda vez que estou aqui estou vencendo a mim mesmo e esta é uma vitória diante de algo tão simples, mas que só eu tenho a dimensão dela”, disse-me uma vez. Concordo com ele integralmente.

Acredito que todo ser vivente deve ter seus “medos imbecis” que proporcionam “vitórias interiores”. Bem, ou talvez eu espero que todo mundo tenha para que eu não soe tão maluco assim. Né?

Só para situar o leitor do ridículo dado que para mim tem tamanha importância: nos últimos 30 dias peguei a autoestrada 4 vezes e tenho programado – junto com a família – viagens cada vez mais longe. Quem saiba não vá ao Sul do país de carro? Eu voltaria um outro eu. Podem estar certo disso. Voltaria o cara que escreveria na sua história um feito de heroísmo tamanho que me credenciaria a estar no próximo ônibus espacial com destino a Marte (e no volante da nave!).

Por enquanto, a maior distância: 300 e poucos quilômetros a uma velocidade média de 90 km/h. Este é o dado concreto. Vamos aos reais: coração com sensação plena de que tudo é possível, corpo com a disposição de pular todo tipo de barreiras, alma com a compreensão de que o medo não pode paralisar mesmo,  certeza de que não se pode abandonar a poesia na dificuldade de concluir o primeiro verso...e por aí vai. Dados reais? Sim! Mais reais que estes para mim é impossível. Você deve saber bem disso nos seus pequenos medos.

Sabe aquele meu amigo? Um dia ele chegou todo orgulhoso de si: cara, eu fui a um show – em algum lugar do mundo que eu não lembro – que tinha mais de 100 mil pessoas. Eu nem gostava da banda, mas sai de lá gostando mais de mim. Juro, é assim que desço do carro depois de 300 km de autoestrada. Valeu a pena cada curva que detestei fazer.

Estrada
(Luis Vilar)

Estrada em frente
Sempre enfrente
Não há outra solução aqui

Cada curva
Pequenas lutas
Entre descansos até um fim

Próxima parada
Próximo movimento
Um mundo conhecido pode desabar

Quem sabe eu mesmo
Já não seja mais o mesmo
Quando for a hora de voltar

Quando o pé pisar a estrada
O coração pisará fundo em outro lugar
Quando a autoestrada já não significa nada
Serei mais triste apesar de tudo aqui me desafiar

Estrada em frente
Sempre enfrente
Não há outro jeito de continuar

Cada curva
A inteligência contra a força bruta
Entre descansos; mas nunca parar

Quando o pé pisar a estrada
O coração pisará fundo em outro lugar...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Voo solo!


Gosto da expressão “voo solo”. Já utilizei em alguns textos, poemas, enfim...me remete a sair na completa solidão de um céu aberto a todas as possibilidades. Traçar a rota nunca antes traçada e encontrar um sentido em pleno céu azul. Algo que só pode ser feito - de fato! - sozinho. É sozinho, deitado no grama, olhando para o céu que as nuvens tomam formas engraçadas. Cada uma que se pareça com o que a mente conseguir imaginar ou impor. 

O céu azul - em voo solo - vai ganhando sentido. Vamos compondo, entre experiências, aprendizagens; valores absorvidos, questionados, refutados, assimilados, devorados, mastigados e cuspidos...e, quando menos se espera, somos nós. E no voo solo, somos nós por inteiro, questionando tudo, sem pudores. Eu e as minhas circunstâncias; eu e o meu pior carrasco. 

O “voo solo” é essencial. Casa fechada, luzes apagadas, madrugada, ninguém ao lado. Asas abertas e vamos lá...rumo ao céu imaginário. No máximo, canetas e papéis. Registros quase que psicografados de uma alma que habita um corpo estranho. O momento posto em verso...o momento em que corpo e alma não se encaixam. Por vezes nesse “voo solo” não encontro semelhança entre o meu físico e o que carrego por dentro, seja pisquê, alma, ou que definição se queira dar...

De chinelos velhos, pijama e xícara de café ao lado...um espírito de 70 anos de idade em um corpo de 33. A alma na frente do corpo; o corpo lamentando e xingando a alma por ser ele a sentir os primeiros desgastes. Pois é! Acho que envelheci cedo demais. E ao mesmo tempo me tornei extremamente cético. Meus “voos solos” são o máximo de contato com uma suposta espiritualidade, mesmo assim sem qualquer pitada de conceito religioso nisso. 

Quando falo em espiritualidade, falo de mergulho na subjetividade. Da busca da genealogia das próprias crenças, dos próprios valores, como frisei lá no segundo parágrafo. Seria um saco repetir novamente. O retorno desses voos - por incrível que pareça! - é sempre marcado por extrema produção. Muitos poemas, muitos textos aleatórios - sejam para o Conversas de Quinta ou para o Blog do Vilar. É tarefa do escritor: ser contemplativo “minutos” antes da “explosão”. 

O engraçado é a forma como costumo trabalhar isto em fases. Ultimamente estas “explosões” vão ganhando forma numa mistura entre verso e prosa. O meu medo é que não tenha sentido para o leitor, porque para mim vai fazendo o total sentido, descobrir-me enquanto eu mesmo escrevo. Casar uma prosa com uma poesia que nasceram quase que simultaneamente. Variações sobre um mesmo tema. Acho até que já falei sobre a questão neste espaço. 


Voo solo

Quando o céu azul é a casa do pássaro
E o ninho é só um porto para descansar
Quando tudo é possível e não há caminho 
Nem qualquer sentido desenhado no ar

Quando tudo pode ser questionado
O que foi consumido e o que está para se consumar
Quando o sentido pode ser ilusório
Assim como tudo tem seu contraditório a nos visitar

O que a gente teima em querer encontrar
Que não está aqui, mas pode estar em qualquer lugar?

Quando o céu azul te chama a sair da ilha
E você perde a trilha observando as nuvens desenhar
Quando a alma quer sair correndo
Apesar do tempo andar perigoso para quem quer sonhar

Quando as asas se abrem a um novo pensamento
E já não tem mais como o coração voltar 
A ser tão pequeno e a bater longe deste sentimento
Que encontrou o céu aberto e quer te empurrar

O que a gente teima em querer encontrar
Que não está aqui, mas pode estar em qualquer lugar?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Eu converso; eu com verso...


Um poema nasceu da conversa com o amigo e jornalista Carlos Melo, sobre as dificuldades de um primeiro passo de um projeto, sobre a luta e suas consequências, sobre como – depois da vitória conquistada – algumas pessoas olham e diz assim: “mas era provável que isto acontecesse!”.

Sobre – ainda! – os “tapas nas costas”, a “torcida do contra” e tudo isso que vem de quem não tem coragem de abandonar sua própria redoma, de quem teme os riscos a ponto de nunca deixar a zona de conforto. Quem ama versos no papel e nunca se arrisca a compor a própria poesia...

Viver é mais que respirar!

Assim como os projetos que queremos para nossas vidas devem envolver mais que querer dinheiro, ainda que este seja necessário, evidentemente.

Tenho pouco, mas daqui da varanda onde escrevo, com a xícara de café soltando sua fumaça, a contemplação do céu azul, com minha filha ao lado jogando seu Nintendo, eu trabalho feliz.

Escrevo em um momento de felicidade, porque mesmo diante das tristezas posso dizer: eu saio da redoma todos, todos os dias, mesmo quando não saio de casa literalmente.

Meu pequeno reino vem sendo feito por mim, sem bajulações, sem puxa-saquismos e – sobretudo – sem desejar mal a seu ninguém. É um pequeno universo de conquistas e derrotas. Algumas derrotas graves ao ponto de me fazerem quase desistir, mas que no fim das contas – até aqui – tem me feito acreditar no lema: “o que não mata fortalece!”. E bola para frente, rumo ao amanhã. 

Sem esperar melhor hora diante de todas as horas que possuem o dia, eu penso em melhorar a cada hora, todos os dias.  Tanto que, das mais simples conversas, nascem meus rabiscos que são sempre variações de um mesmo tema. Rabiscos? Sim, mas os poemas que que queria ler e que alguém não fez, então eu faço, todo dia, todo dia, todo dia...

Na Redoma
(Luis Vilar)


Na redoma
Satisfeito
Sem nenhum desespero
Esperando a melhor hora de acordar
Como se houvesse melhor hora...
...dentre as horas de um dia
Como se houvesse melhor verso...
...quando são todos que formam a poesia

Na redoma
Aqui sem cheiro
Sem necessidade
Sem nenhum receio
Esperando o momento certo de acertar
Como se houvesse um só momento...
...com janela aberta e todos fatores de garantia
Como é lindo entender a vitória acontecida...
...desprezando os riscos que até então havia

Na redoma
O tempo inteiro
Passou janeiro, chegou janeiro
Nunca saiu de lá
Transparente, da redoma sempre viu a vida
Passou tantos dias a desejar
Como não haveria de invejar
E beber deste veneno todo dia
Sem nunca sair de lá...
Sem nunca sair do lar...

Na redoma, o único trabalho é respirar
Enquanto existir o ar
Mas eu quero mais, eu quero respirar poesia
Sei dos riscos que há
Os riscos de sair de lá
Os riscos de sair do lar