“Quem é jovem não
espere para fazer filosofia; quem é velho, não se canse disso!”.
A frase é de Epicuro. Está presente na Carta a Meneceu. Quem
acompanha este blog sabe o quanto a temática da filosofia me atrai,
mesmo sendo alguém distante – totalmente por fora mesmo! -do meio
acadêmico. Por vezes, entre doutrinas e filodoxias, tenho a
impressão de que entre os muros que formam a fortaleza da filosofia
oficial e suas salas de aula fica justamente o local onde se filosofa
menos. Onde se doutrina mais.
Tem doutor que se agarra
ao título de pensador para fazer da filosofia uma religião e a
sacrifica levando a vaidade ao altar. Lá se casam e procriam
sofismos. Por sorte, surgem sempre os que versam sobre a essência da
filosofia e retomam, reconstroem, mostram a ponte entre a filosofia e
o cotidiano. Entre a filosofia e as nossas escolhas. O quanto ela
está presente em nossos dias; o quanto faz parte do “mundo
prático”.
Na formulação dos
conceitos, na busca por essências, nas concepções de justiça,
beleza, dentre outros temas. Sou fã dos escritores que rompem essas
barreiras do academicismo e do doutrinamento para apresentarem ao
grande público o que de fato é filosofia. Na França, o trabalho de
Luc Ferry deve ser sempre aplaudido. Aprender a Viver é um clássico
da filosofia moderna. Apesar do título – o que leva a muita gente
a confundi-lo com livro de autoajuda (falo aqui do conceito das
prateleiras das livrarias) no Brasil – a obra nos coloca em uma
viagem pelo conhecimento que verdadeiramente liberta.
O bom debate em que o
foco é a verdade. Ao contrário dos arrogantes seminários enlatados
que disfarçam sua real intenção de doutrinar alunos em função de
uma corrente ideológica, quando não político-partidária. Ferry é
um escritor que ajuda a desintoxicar o pensamento. Mas, não se trata
apenas dele. Não é o único! (Ainda bem).
Guardando as devidas
proporções, o trabalho do professor Clóvis de Barros Filho também
é admirável. O contato com sua obra abre links importantes para que
revisitemos a filosofia clássica - especialmente Sócrates e Platão
– com o foco de pensar as nossas vidas. Como o próprio Clóvis
Barros Filho coloca: “pensar a vida boa”. Em “A Vida Que Vale A
Pena Ser Vivida”, o convite que o professor universitário nos faz
é desafiador. Buscar a essência do que nos cerca para então julgar
o particular.
Clóvis de Barros Filho
nos apresenta o caminho, jamais a resposta. O exercício da premissa
socrática do “só sei que nada sei” dentro do cotidiano.
“Querido leitor, proponho uma conversa”, abre o escritor, em
períodos onde tanta gente “mostra” a verdade. Há academias
inteiras empurrando uma visão dicotômica de mundo como se filosofia
isto fosse. Por isto, que em terreno infértil, as prateleiras de
livrarias estão lotadas de obras que não dialogam com a realidade.
Ou pior: vomitam suas dicotomias para se lançarem como salvadoras.
E por que é tão
importante uma filosofia praticada com honestidade intelectual? Por
qual razão ela precisa estar presente em nosso cotidiano? Pela razão
pela qual sempre esteve. Por isto é importante. Todos nós
procuramos uma vida boa. Sem pensar para viver – convite que é
feito por todos os filósofos do mundo – mergulharemos em vidas
superficiais regidas apenas pelo pêndulo do “desejo” e do
“prazer”, confundindo o próprio prazer com a felicidade.
Decretando, como diria
Jean Paul Sartre, o suicídio do prazer toda vez que saciado o
desejo. Uma existência menor, sem grandes questões a serem
alcançadas. O dinheiro pelo dinheiro. O prazer pelo prazer. Uma
eterna adolescência tão bem fornecida – como coloca Mário Vargas
Llosa - “pela sociedade do espetáculo”. Seriamos sombras e
sobras em uma caverna, fazendo alusão ao filósofo Platão, por
exemplo.
Quem muito bem coloca
isto é Santo Agostinho em uma conversa com Santa Mônica. “Se quer
bens e os tem, és feliz. Se queres coisas más, ainda que as tenha,
serás infeliz”, diz Mônica. Agostinho, então responde: “Mãe,
alcançastes por completo o próprio refúgio da filosofia”. Vale a
pena ler o diálogo completo em Diálogo Sobre a Felicidade.
Com uma linguagem mais
acadêmica, quem nos empurra para o uso da filosofia de fato – e
não como instrumento de laboratório dentro de academias e de
maneira estéril! - é o mestre Miguel Reale. Introdução à
Filosofia da Editora Saraiva é uma excelente obra para quem de fato
quer fugir da filodoxia domesticada pelo proselitismo.
Como abri com Epicuro,
finalizarei com ele: “por isso tanto o jovem quanto o velho devem
FAZER (vejam bem o significado deste verbo) filosofia. Um para que,
embora envelhecendo, permaneça sempre jovem de bens por causa do
passado. O outro para que se sinta jovem e velho ao mesmo tempo, para
que não tema o futuro”. Eu acrescentaria: para que não
entreguemos o futuro de mão beijada para os que insistem para não
pensarmos e somente acreditarmos neles.