segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

FAZER (olha o VERBO!) Filosofia!


“Quem é jovem não espere para fazer filosofia; quem é velho, não se canse disso!”. A frase é de Epicuro. Está presente na Carta a Meneceu. Quem acompanha este blog sabe o quanto a temática da filosofia me atrai, mesmo sendo alguém distante – totalmente por fora mesmo! -do meio acadêmico. Por vezes, entre doutrinas e filodoxias, tenho a impressão de que entre os muros que formam a fortaleza da filosofia oficial e suas salas de aula fica justamente o local onde se filosofa menos. Onde se doutrina mais.

Tem doutor que se agarra ao título de pensador para fazer da filosofia uma religião e a sacrifica levando a vaidade ao altar. Lá se casam e procriam sofismos. Por sorte, surgem sempre os que versam sobre a essência da filosofia e retomam, reconstroem, mostram a ponte entre a filosofia e o cotidiano. Entre a filosofia e as nossas escolhas. O quanto ela está presente em nossos dias; o quanto faz parte do “mundo prático”.

Na formulação dos conceitos, na busca por essências, nas concepções de justiça, beleza, dentre outros temas. Sou fã dos escritores que rompem essas barreiras do academicismo e do doutrinamento para apresentarem ao grande público o que de fato é filosofia. Na França, o trabalho de Luc Ferry deve ser sempre aplaudido. Aprender a Viver é um clássico da filosofia moderna. Apesar do título – o que leva a muita gente a confundi-lo com livro de autoajuda (falo aqui do conceito das prateleiras das livrarias) no Brasil – a obra nos coloca em uma viagem pelo conhecimento que verdadeiramente liberta.

O bom debate em que o foco é a verdade. Ao contrário dos arrogantes seminários enlatados que disfarçam sua real intenção de doutrinar alunos em função de uma corrente ideológica, quando não político-partidária. Ferry é um escritor que ajuda a desintoxicar o pensamento. Mas, não se trata apenas dele. Não é o único! (Ainda bem).

Guardando as devidas proporções, o trabalho do professor Clóvis de Barros Filho também é admirável. O contato com sua obra abre links importantes para que revisitemos a filosofia clássica - especialmente Sócrates e Platão – com o foco de pensar as nossas vidas. Como o próprio Clóvis Barros Filho coloca: “pensar a vida boa”. Em “A Vida Que Vale A Pena Ser Vivida”, o convite que o professor universitário nos faz é desafiador. Buscar a essência do que nos cerca para então julgar o particular.

Clóvis de Barros Filho nos apresenta o caminho, jamais a resposta. O exercício da premissa socrática do “só sei que nada sei” dentro do cotidiano. “Querido leitor, proponho uma conversa”, abre o escritor, em períodos onde tanta gente “mostra” a verdade. Há academias inteiras empurrando uma visão dicotômica de mundo como se filosofia isto fosse. Por isto, que em terreno infértil, as prateleiras de livrarias estão lotadas de obras que não dialogam com a realidade. Ou pior: vomitam suas dicotomias para se lançarem como salvadoras.

E por que é tão importante uma filosofia praticada com honestidade intelectual? Por qual razão ela precisa estar presente em nosso cotidiano? Pela razão pela qual sempre esteve. Por isto é importante. Todos nós procuramos uma vida boa. Sem pensar para viver – convite que é feito por todos os filósofos do mundo – mergulharemos em vidas superficiais regidas apenas pelo pêndulo do “desejo” e do “prazer”, confundindo o próprio prazer com a felicidade.

Decretando, como diria Jean Paul Sartre, o suicídio do prazer toda vez que saciado o desejo. Uma existência menor, sem grandes questões a serem alcançadas. O dinheiro pelo dinheiro. O prazer pelo prazer. Uma eterna adolescência tão bem fornecida – como coloca Mário Vargas Llosa - “pela sociedade do espetáculo”. Seriamos sombras e sobras em uma caverna, fazendo alusão ao filósofo Platão, por exemplo.

Quem muito bem coloca isto é Santo Agostinho em uma conversa com Santa Mônica. “Se quer bens e os tem, és feliz. Se queres coisas más, ainda que as tenha, serás infeliz”, diz Mônica. Agostinho, então responde: “Mãe, alcançastes por completo o próprio refúgio da filosofia”. Vale a pena ler o diálogo completo em Diálogo Sobre a Felicidade.


Com uma linguagem mais acadêmica, quem nos empurra para o uso da filosofia de fato – e não como instrumento de laboratório dentro de academias e de maneira estéril! - é o mestre Miguel Reale. Introdução à Filosofia da Editora Saraiva é uma excelente obra para quem de fato quer fugir da filodoxia domesticada pelo proselitismo.

Como abri com Epicuro, finalizarei com ele: “por isso tanto o jovem quanto o velho devem FAZER (vejam bem o significado deste verbo) filosofia. Um para que, embora envelhecendo, permaneça sempre jovem de bens por causa do passado. O outro para que se sinta jovem e velho ao mesmo tempo, para que não tema o futuro”. Eu acrescentaria: para que não entreguemos o futuro de mão beijada para os que insistem para não pensarmos e somente acreditarmos neles.  

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Das leituras e seus links...

Não lembro – deve fazer muito tempo – de um período em que me dediquei tanto a estudos quanto nos meses de outubro e novembro deste ano. Saí em busca de respostas, voltei com mais dúvidas na bagagem. Entre as indagações, uma que ainda ecoa no silêncio: diante de tantos pontos de vista a serem esmiuçados, questionados, indagados, como é que tem gente com coragem o suficiente para arrotar tanta tristeza? São imaturos o suficiente para saberem de tudo! Aliás, possuem o ponto de vista sempre pronto para passar a vista em poucos pontos.

De preferência, aqueles pontos de vistas que sustentam – de uma forma pseudo-racional-argumentativa – o ódio passional que carregam e que os movem em direção sabe-se lá ao que...

O que me surpreende na atividade do estudo disciplinado – eu acredito que disciplina é liberdade! Acredito mesmo! - são os links que vão se abrindo na navegação (acho que posso usar esta palavra!) por entre páginas de livros. A leitura de Robert Gellately, por exemplo, me levou a releitura de George Orwell, que me levou a um estudo sobre os estoicos, que em seguida me levou ao mundo de Richard Dawkins, não pelo ateísmo, mas pela compreensão do homem do ponto de vista biológico.

Abre parênteses. Aliás, retirando a cruzada passional de Dawkins, há muito – muito mesmo! - para se aproveitar em seus escritos. Deus, um Delírio talvez seja o menor de seus livros. Fecha parênteses.

Por falar em links, lembro que a leitura de Dawkins me levou a honestíssimos pensadores cristãos – links e mais links! - como William Paley, Jonh Lennox e Karen Amstrong. Dois lados de uma mesma discussão, porém longe de serem apenas dois pontos de vista sobre um mesmo assunto. Uma lição de como praticar filosofia (na essência da palavra) sem as babaquices odiosas, cheias de passionalidade e causa, disfarçadas de racionalismo que acabam nos levando para a filodoxia.

Quem dera ter mais tempo para mergulhos mais profundos nestes caminhos que se abrem na viagem pelo universo das Letras. Com “L” maiúsculo mesmo. Antigamente, quando era criança o suficiente para saber de tudo, dispensei muitas leituras por puro preconceito. Hoje, tenho que correr atrás destes conhecimentos. Destas fontes. Ainda que siga discordando delas.

Foi o que aconteceu – por exemplo – com Stendhal. Conheci-o tardiamente (Mas nunca é tarde!). O mesmo se deu com o pensamento sobre o utilitarismo e a liberdade de Stuart Mill. Erros frutos de uma pueril certeza. Por sorte, a gente cresce o suficiente para descobrir que não sabe de tudo. Para entender o quanto é óbvia a sentença atribuída a Sócrates; é profunda e verdadeira: só sei que nada sei. Para entender o que de fato significa maiêutica e que, não é por acaso, se compara a um parto. Na dor e na luz. Nas fases da gestação e na beleza do nascimento.

Por esta razão, livros sempre foram sagrados para mim. Sempre os admirei profundamente. Sempre reverenciei escritores e procuro exercitar a humildade de ouvir. É preciso silêncio para detectar o que vale realmente a pena em meio a tanta gritaria. Uma tarefa que tem a ver com humildade. É preciso silêncio até o silêncio ser preciso. Lembro de uma expressão criada pelo escritor Mia Couto: “o afinador de silêncios”.

Não lembro o título do romance de Couto em que este personagem aparece. Mais uma bela história sobre a ponte entre o mundo e nós. Uma ponte formatada por experiências, leituras, reflexões, silêncios, links...e por aí vai! O que exponho e discuto aqui tem total correlação com a necessidade de abandonarmos o preconceito diante do diferente para então formarmos – de maneira humilde, mas pautados pela busca de conhecimento e da verdade – nossos conceitos.

Uma sociedade que transversaliza demais os seus valores em nome de tudo e todos, afogada na superficialidade, na gritaria e no “estardalhaço opinativo” antes de conhecer; uma sociedade da eterna espetacularização, ainda não saiu da adolescência. É o tal do imaturo que sabe de tudo. Com este não há o que discutir. Afinal, ele sabe de tudo por saber tão pouco. Quem sabe de tudo, sempre sabe muito pouco.

Há ainda entre estes “senhores das certezas” os que se arrogam intelectuais. Como diria o músico Lobão, a galera que vive batendo punheta de pau mole. É por aí...masturbação intelectual dos que falam para si ou para o seu grupo. Ou falam de forma obscurantista o suficiente para serem “inteligentes” diante de qualquer um que não tenha condições suficientes para desmascará-los. Gente muito supimpa e sempre interessada em acabar com os males da humanidade por meio da verborragia. Velho ditado: de boas intenções o inferno está cheio. Creio que o inferno – neste caso – nem precisa ser outro plano.

“Hey mãe, por mais que a gente cresça há sempre alguma coisa que a gente não consegue entender!”, já diria o músico Humberto Gessinger. Lembro de sempre cantarolar este trecho da música quando estava resolvendo os problemas de Física na escola (risos)! Lembrei disso ao ler a recente biografia de Stephen Hawking, quando ele falava sobre enxergar (encontrar!) uma teoria que abrace o todo.

Leiam meus amigos, leiam! Para saber que precisam sempre saber mais e o quanto se sabe pouco. Deixem essa história de “saber tudo” para quem de fato domina esta técnica ao não saber de nada. Ao não enxergar – e/ou construir – os links.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Palavras que libertam são as que buscam clareza

Sempre tive uma admiração incrível por quem consegue usar as palavras com clareza, sobretudo quando partem para a construção de metáforas ou brincam com os radicais do léxico e o duplo sentido. Porém, mesmo diante das metáforas ou do sentido literal, nunca perdem o norte da clareza para com o ouvinte-leitor.

Nas redes sociais, por exemplo, o trabalho desenvolvido por Carlos Maltz (ex-engenheiro do Hawaii, escritor, músico, astrólogo e psicólogo) é algo que me chama a atenção (e muito) justamente por este motivo. O uso da palavra, quando busca a obscuridade, o proselitismo, ou a confusão mental, tem um único objetivo: dominar e fraudar um debate. É a porta aberta para a vigarice intelectual. Maltz é um excelente exemplo de honestidade intelectual no uso da rede.

Quem coloca isto de forma muito bem posta é o escritor George Orwell em seu maravilhoso 1984. Ele ressalta o “duplipensar” e a “novilingua”. Orwell mostra que o domínio mais eficaz de uma sociedade é por meio da linguagem. Por meio da linguagem é possível criar os “ditadores do bem”, bem representados pelos defensores do politicamente correto. Basta uma palavra para esconder a concepção e o objetivo dos fatos e criar uma realidade paralela.

Nesta realidade, quem desnuda os fatos é sempre alguém mal, vil, golpista, fascista, ou qualquer outra palavra – distante de qualquer argumento – produtora de uma ilha ilusória onde vivem os que sempre querem o “bem” da humanidade.

Corruptos viram altruístas “em nome da massa” num simples produzir de um dicionário que dá sustentação a uma ideologia. E quem enxerga com clareza o que se passa por trás destas palavras que servem de cortina a um sistema, logo é taxado de alienado. Simples assim. Para isto, bastam palavras. Isto por si só mostra o ambiente que se tornou as redes sociais quando nas mãos dessa gente que é sempre o “portador do sentimento mais nobre de justiça e luta pelos pobres”.

Já diria o escritor Nelson Rodrigues: “é fácil amar a humanidade; difícil é amar o próximo”. Se torna ainda mais fácil esse amor altruísta à humanidade quando apoiada em jargões e na destruição completa de qualquer adversário, como se inimigo fosse. Aliás, por meio das palavras se cria sempre um “inimigo imaginário” capaz de corromper a tudo e a todos. Desta forma, esta criatura “abnegada que sempre age em nome do bem maior” não precisa argumentar com ninguém. Afinal, todos que estão contra ele são apenas “funcionários” deste “inimigo imaginário” que quer “dominar o mundo”.

Você será sempre o Pink de um Cérebro imaginário... parodiando aqueles dois ratinhos de laboratório do desenho animado. A caricatura está pronta por meio das palavras.

Como palavras são usadas para eufemismos e deturpações: é como o Estado começar a chamar o pagador de imposto de contribuinte. Um joguete vocabular para ficarmos mais satisfeitos com o que somos obrigados a pagar. Ora, imposto é uma imposição. Imposição não é uma contribuição. Logo, não somos contribuintes. Não se trata de ser contra impostos. Claro que eles devem existir. Trata-se apenas de querer a linguagem certa para tornar os fatos claros, ao invés de obscuros.

O marketing é sensacional neste sentido. Vale lembrar o que já colocava o filósofo Confúcio – há muito tempo! – ao ressaltar: “quando as palavras perdem seu significado, as pessoas perdem a sua liberdade”. O politicamente correto dos dias atuais nada mais é do que isto. Encontrar – muitas vezes – maldade, racismo, perversidade, inimigos, onde não há nada disto. Assim, doutrinar!

Lembro de um jornalista hostilizado – recentemente! – por utilizar o termo “línguas negras” para denominar um pequeno rio de esgoto que ia até o mar. Pronto, ele virou racista para muita gente. Ora, nunca houve racismo algum na expressão.

Por outro lado, um deputado federal que defende a bandeira dos homossexuais e – em um primeiro atrito com alguém que divergia dele – chamou o debatedor de “bicha enrustida”. E aí? No caso dele, não se trata de homofobia? É a novalingua em andamento.

No dias atuais, ser um intelectual é falar confuso, é ser prolixo na vigarice intelectual para dar a impressão de que ninguém consegue rebater pensamento tão grandioso em função das palavras difíceis e das expressões que se usa. Salve Karl Popper que disse: “o cultivo de uma linguagem simples e despretensiosa é dever de todo intelectual”. Pois é. Quem é obscuro de maneira proposital não quer ser pego na própria vigarice.

Por sorte, temos sempre os atrevidos capazes de passar a rasteira “nestes senhores intelectuais de plantão” e a forma como usam a linguagem. Alan Sokal escreveu certa vez um artigo confuso, cheio de palavras difíceis, jargões e expressões incompreensíveis e mandou para uma revista científica. Sokal sabia que seu texto não dizia nada com nada. Ele foi publicado e aplaudido. Mistificasse a linguagem e esta se torna a embalagem muito mais importante que o conteúdo. Em alguns casos, sequer precisa de conteúdo.

Por isso as palavras são tão importantes. Elas servem para clarear, para argumentar sobre a realidade, para desnudar, para tornar óbvio o que é visto. Quanto mais claro alguém consegue se expressar, mais honesto intelectualmente ele está sendo. Esta deveria ser uma regra em um debate: buscar a clareza como forma de libertação, como caminho para se atingir a verdade. A verdade é sempre algo muito mais importante que os debatedores e seus egos presos à dimensão mesquinha da vaidade intelectual ou de outras vaidades e interesses.

Não importa se azul ou vermelho, se lado A ou lado B, se esquerda ou direita, se rock ou funk, enfim...é cada vez mais comum encontrarmos em simples palavras a busca pela obscuridade. Gritar, berrar, para se fazer superior. A força com que você grita não transforma o que você diz em verdade. Cito exemplos, chamar de “factóide” ao invés de argumentar fatos expostos que lhe são desagradáveis, chamar de “golpista” quem simplesmente mostra uma visão discordante, chamar roubo de “malfeito” e por aí vai o emprego de palavras e mais palavras e mais palavras que cumprem um objetivo claro naquela novalingua citada por George Orwell.

No fim, os que escrevem o dicionário da pós-modernidade – como não poderia deixar de ser – dominam sem fazer força e saem por aí arrotando superioridade com o vocabulário que criaram. Eles serão sempre politicamente corretos, serão sempre monopolizadores das virtudes. Coitado de você se tiver uma palavra que os afronte, se tiver algo que os desnude. Você saiu da cartilha, está usando o que é proibido pelos dicionários. E se a medida é a régua deles, você nunca estará certo. Será sempre o mal a ser combatido. Para todo o sempre, amém.


Vale lembrar uma regra posta para quem quer usar as palavras para obscurecer: “acuse sempre o adversário de ser aquilo que você é”. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Diálogo entre eus


Nas minhas crônicas insônias
Há universos paralelos que crio sem dormir
Ao imaginar como poderia ter sido
Se eu tivesse feito diferente tanta coisa que já fiz

Quantas vezes fui injusto
Comigo mesmo e com tantos outros que passaram por aqui
Quantas palavras desperdicei
Quantos silêncios esperaram uma palavra certa sair
Quantas vezes me droguei
Quantas vezes me matei para poder prosseguir

Mas eu não quero voltar
Apesar de dialogar constantemente
Com outros  eus dentro de mim
Outros que ficaram para traz
Outros que poderiam ser mais ricos e acertado mais
Outros que poderiam ter ignorado tudo que vi
Poderiam ter passado batido pelos erros que cometi

Mas só existe uma chance
Uma decisão, um momento e só
Meus erros e acertos me fizeram dar um nó
Que talvez nem desate mais
Algo que me prendeu a ti

Que apesar de eu conversar
Com outros eus que ficaram por aí
É com você que eu quero estar
Para abrir a janela para o que futuro vai nos reservar
É com você que eu quero envelhecer
Segurando sua mão no sofá

Sem desejar nada além dessa vida que já ousou nos juntar
Entre tantos erros e acertos que nos colocaram neste lugar
No momento exato em que pude te avistar
O momento em que descobri que já não dava para voltar
No momento em que tudo perde o sentido se você sair

E eu que tenho tantos defeitos
Tantas idiossincrasias  como os dias sem conseguir dormir
Como a solidão estranha que sempre carrego por aí
Como o pessimismo latente por mais que eu tente fugir
Quem diria que o teu olhar refletiria a felicidade tão fácil assim

Se eu tivesse só uma chance de voltar
Uma nova decisão, um novo caminho a traçar
Eu faria tudo igual quantas vezes fosse preciso
Até te encontrar novamente na esquina em que te vi
Pode ser difícil de acreditar
Mas sem você eu jamais teria conhecido o melhor de mim

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Dos livros e da arrogância...


Cresce nas redes sociais – para o meu espanto – cada vez mais o número de pessoas que opinam sem sequer conhecer detalhes (ou até mesmo a superficialidade) do que estão opinando. É a turma que vai na onda, impulsionada por falas de “artistas” e de outros tão superficiais quanto.

E os temas vão – como diria um amigo – “da construção de navios ao acasalamento dos mosquitos”. Não bastasse a superficialidade, é um tipo de gente que “rosna” diante da exposição do conhecimento aprofundando.

Se o texto ultrapassa uma quantidade “X” de caracteres, ou cita fontes, ou aconselha leituras para o aprofundamento da questão, já se fez o suficiente  para se ganhar o rótulo de pedante, arrogante, facista, ou algo que valha. Sequer o significado dos adjetivos – que consta em qualquer simples dicionário – é respeitado.

Joga-se o contexto fora e para afastar a luz do conhecimento ou o argumento; qualquer adjetivo é muito bem-vindo. Assim, eles rosnam. Não abrem um milímetro do círculo edificado pela cegueira para não correrem o risco de estarem errados. Afinal, se o mundo destas criaturas desabar, o que será delas?

Lembram as sombras e os enfurnados na caverna de Platão. Não aguçam a inteligência o suficiente. Com isto, jamais perceberão o quanto são adestrados. Já disse aqui: se há algo que quanto menos você usar, menos você sentirá falta, este algo é a inteligência.

O círculo de intelectuais adorados por esta gente são aqueles que sempre vão beber na mesma fonte. Assim, eles são capazes de falar de socialismo e comunismo sem ler Karl Marx. São capazes de estraçalhar as opiniões de um escritor sem nunca ter lido seus livros. O contrário também são capazes de fazer. São revolucionários! Tão revolucionários que começam a casa pelo teto e dispensam alicerce.

Quando confrontados, possuem suas táticas de guerrilha: diante da incapacidade de entender o argumento de quem debate com eles, inventam algo que você não disse para se defenderem do que gostariam que você tivesse dito. Aliás, estas são as principais armas da vigarice intelectual: adjetivar, inventar, propagar a invenção, se defender da invenção, tornando o outro o mal que precisa ser combatido. Diante deste cenário, obviamente que estas criaturas dóceis acabam ficando com o monopólio das virtudes.

Como não acredito em conhecimento sem esforço, vejo nas fontes, nos livros, nos documentos, na lógica, na racionalidade, na busca pela verdade, a forma mais correta de empreender na filosofia. É desnecessário afirmar que a leitura – de clássicos, inclusive! – para isto é fundamental. Por isso aplaudi tantas vezes Narloch, Laurentino Gomes e outros pela iniciativa de revisitar e escrever sobre nossa história de maneira tão embasada. Sem os fetichismos ideológicos. Eles deram aula a muitos acadêmicos de meia-tigela.

Por isto que eu tenho uma paixão por livros. Não nego. Prefiro passar pelo arrogante falando das minhas leituras e do que conclui com base nelas, a ter que aderir ao mundo do “heroico apedeutismo”, que vem sendo motivo de orgulho de muitos revolucionários nas redes sociais. 

Que se conservem espalhados os meus livros pela casa. Sempre sobre os mais variados assuntos. No dia em que eu quiser opinar sobre a construção de navios, lerei muito sobre o assunto antes. Incluindo o que há de mais moderno e mais clássico. O mesmo vai ocorrer quando precisar falar sobre o acasalamento dos mosquitos.

Escrevo citando livros, pensamentos pré-existentes em relação ao meu, mostrando fontes que me respaldam e indicando as que se divergem do meu pensamento, por acreditar que a base para qualquer discussão vem do estudo sério. Repito: “não acredito em aprendizado sem esforço”.

Defendo isso – sobretudo no jornalismo – e admiro quem estuda em suas áreas, quem perde noites de sono longe da sociedade do espetáculo – tão bem descrita em excelente livro de Vargas Llosa, que leva esse título – para tentar chegar a um pensamento. Chegar a um pensamento no sentido socrático mesmo, no sentido da maiêutica. Sem filodoxias.

Sempre elogiei pessoas que possuem essa preocupação. Como os estudos de Boaventura de Sousa Santos (com quem tenho divergências de pensamento) e sua honestidade intelectual. São frutos das pesquisas dele.

Quem opta por este caminho – que não é fácil, pois requer tempo, sacrifício e paciência – verá que vai ter opiniões menos vazias, verá o mundo de forma melhor, mais liberta de chavões ideológicos, de premissas mal colocadas, de contextos construídos propositadamente. Será mais rico de um sentimento que impulsiona a busca pela verdade sem querer impor. Isso sim é humildade.

Humildade diante do conhecimento. Quem quer algo diferente disto, não quer humildade. Quer serventia! Arrogância – na verdade – é querer impor um ponto de vista sem nada que o sustente, baseando-se apenas na cegueira alheia e no próprio achismo. Se em terra de cego, quem tem olho é rei. Em terra de leitores, é possível o olhar crítico para se apontar que o rei está completamente nu!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Do pouco que busco; do que de belo eu encontro

Zaratustra – do filósofo Nietzsche – coloca que, em nossa trajetória, podemos demorar muito tempo até nos depararmos com o que realmente queremos e o que dá sentido às nossas vidas. Até nos olharmos como expectadores de nossa própria existência nos sentindo bem à vontade com essa presença no mundo. Este encontro que é a arte da vida, entre tantos desencontros, como diria o poeta Vinícius de Moraes, nos traz um sentido para o que fazemos, para o que queremos e para onde vamos, ainda que o fim da existência seja igual para absolutamente todos os viventes.

O profeta Zaratustra ainda segue em sua reflexão. Coloca que – ainda que se demore muito para encontrar se quer da vida – quando nos deparamos com este achado, não podemos recuar. Não podemos abrir mão! Caso contrário, teremos uma derrota que significa morrer antes da morte! Estar neste espaço metafísico que dá sentido a existência não é fácil. O mundo não vai abrir mão – com seus acontecimentos, com seus seres aflitos e alimentados pelo ódio e pela inveja – das tentativas de nos roubar o norte.

Precisamos lembrar sempre da “alegria limpa” de agir de acordo com a consciência. Não perder de vista. Foi isto que me fez escolher o jornalismo. Levou-me a exercer esta atividade de forma tão singular; e me deixa cada vez mais distante da forma como é praticada hoje. Não digo isto por arrogância ou por querer julgar as múltiplas formas de se pensar jornalismo. Acho-as válidas e necessárias ao debate. Não digo que a minha maneira é a correta. Digo apenas que no exercício da minha labuta, sempre procurei a objetividade, a honestidade intelectual para com o leitor e o estudo aprofundado dos assuntos que decido abordar.
Além da consciência limpa ao final de cada texto.

Fiz do meu texto, um texto que é realmente meu. Que não precisa de assinatura para estar assinado. Disto, orgulho-me. É isto que luto diuturnamente para não perder, porque sei o quanto demorei para chegar aqui e para afirmar – com todas as letras – que é o que quero de minha vida. Agora, não vou recuar. Ainda que eu me sinta em uma ilha quando defendo algumas ideias sobre o exercício da profissão e as argumento com o público.

O que me causa estranheza, hoje em dia, é a quantidade de “profissionais da pena” que usam o jornalismo como cavalos selados sempre a serviço de um montador. Uma ideologia, um parido, um recibo...e por aí vai. Apequenam-se enquanto seres humanos, fingem ser pensadores, arrogam para si uma pseudo-intelectualidade em função da profissão que exercem, arrotam verdades sem possuir domínio sequer sobre o que pensam. É triste. Lambuzam-se no mel das fontes em busca de seus palcos e vitrines.

Infelizmente, com o pensamento crítico é assim: quando menos você usa, menos vai sentir falta dele. Com isto, acaba se acostumado com as “verdades” e “chavões”, sem a necessidade da busca a qual me referi ao citar Zaratustra neste texto. E aí, surge algo típico das discussões que estão sendo travadas nas redes sociais, hoje em dia: acaba sendo tomado por arrogante aquele que cita suas fontes, as leituras que faz, com forma de embasar seu pensamento; a sua reflexão.

Por que é de se estranhar? Ora, citar tais elementos é dar condições para que todos que queiram acompanhar uma linha de raciocínio possam contribuir ou discordar com mais substância. Neste sentido, a pesquisa, a leitura, enfim...são primordiais para este caminho que tento mostrar aqui. Mas alguns de nossos intelectuais – tão sinceros quanto a “fé” que os patrocinam – fogem disto como o diabo foge da cruz. Será que é preciso explicar o motivo?

São intelectuais que tratam certos estudos como relações secundárias pela razão de não falarem com a alma, com honestidade intelectual. Seus trabalhos servem apenas de palanque para a vaidade, para se lambuzarem em seus celeiros, pelos títulos, com os títulos e para os títulos de uma panelinha que não se encontra, nem se encontrará. São pensamentos nebulosos para sustentar algo maior. Por isso se apóiam no politicamente correto, no monopólio das virtudes, nos chavões e em outras práticas de pura vigarice intelectual.

Fazem parte do bando. Fazem questão de não serem indivíduos. Partem para o típico papel de quem não quer o debate. De quem quer apenas confundir, iludir e doutrinar. Necessariamente nesta ordem.


Quem tiver olhos que veja; quem quiser buscar a si mesmo que não recue, pois não faltarão ataques, por todos os lados e de onde menos se espera. Prestem muita atenção que existem valores – para determinados pensadores – que podem ser deturpados em função da causa. Entre eles, os que motivam os crimes e o que é honestidade.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Ser esta canção, seresta!


Quando um vagabundo sem casa
Descansa as asas; faz ninho em um coração
Um dinossauro entre espaçonaves; ele passa
Por dentro de um tempo que teme qualquer solidão

Por esses novos itinerários
Vejo a nostalgia das erradas previsões
Pego trens que não cumprem horários
Nem sei se chego no futuro ou no passado...
...mas ando chegando com outras opiniões

Não quero causa só para criar caso
Nem sentido para impor ao soldado
Esses coletivos sempre destinados...
...a repetirem os passos...
...rumo ao lugar que não chegarão!

Sigo só sempre sem pressa
Sigo para sempre só; minha balada é essa
Uma canção de contemplação
Que mais parece o silêncio da estrada deserta

Com a queda da chuva vem as incertezas
E o passo sempre aperta
Não sei qual será a melhor vez
Por isso, sempre a melhor vez será esta
Debaixo de tua janela farei todas as serestas

Planejaremos tantos futuros quanto missões
Nossas almas dançarão valsa à luz de velas
Vão contrariar as multidões...

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Um chão de livros...


Depois de dias de trabalho intenso, num início de tarde de segunda-feira – quem diria! – encontro um pequeno tempo para dar atenção ao Conversas de Quinta.  O espaço se tornou atemporal. Uma garrafa lançada ao oceano, sem hastags e “macetes” para facilitar as buscas. Confesso: eu acabo gostando disso. Não sei quem chegará aqui, por qual razão chegará aqui...enfim...

É legal! Parece sempre os quinze minutos pós-leitura enquanto o sono não vem. Deitado na cama, olhando para o teto, não tem hastags, não tem filtros...o pensamento vai...sem digitar nada na caixinha do site de busca...links completamente aleatórios que acabam trazendo algum tipo de reflexão!

Nesta segunda-feira, por exemplo, estava em busca de um tema para o Conversas de Quinta. Havia o tempo; não havia o tema. Depois de alguns minutos parado, percebo a quantidade de livros que estão espalhados pela casa no momento em que estou de mudança de apartamento.

Lembro da frase da minha esposa, afirmando que preciso encaixotar alguns, doar outros, enfim...já que não vai haver espaço para todos na casa nova. Ainda não realizei o sonho de ter uma biblioteca. Quem sabe um dia, após muitos links aleatórios...quem sabe...

Comecei a folhear alguns dos velhos “amigos”. Olho para cada livro e me lanço o desafio de lembrar quando li. O contexto em que a obra me foi apresentada, que emoções trouxe, que transformações causou. Separo os livros. Primeira categoria: os mais importantes e os menos importantes. Descubro que não dá para medir grau de importância. Putz. Como isso é difícil.

São amigos de momentos distintos. Não dá mais para separar os primeiros anos da adolescência das leituras de Hermann Hesse, por exemplo! Não dá mais para fingir que não li Crime e Castigo. Como encaixotar Dom Quixote? Como mandar Albert Camus para dentro de um móvel fechado? Como não deixar Oscar Wilde “brilhar” na estante...? Como não se emocionar com a capa da Divina Comédia?! E por aí vai, passeando aqui por Espinoza, Kant, Stendhal, dentre outros...

Alguns serão doados após a “arrumação final”.  Espero que caiam em mãos que tenham a mesma paixão que eu tenho pelos livros. Que encontrem almas que saibam o quanto estes abrem novas perspectivas, apresentam um outro mundo possível...enfim...não escondo que é uma difícil separação, mas nesta semana iniciou uma tarefa árdua: separá-los em três categorias objetivas: os que ficarão na estante por serem os que eu mais consulto; os que vão ser encaixotados e guardados por serem os que menos consulto; e os que serão doados por serem edições repetidas e por outros motivos.

Alguém pode perguntar por qual razão alguém teria livros repetidos? Um maluco como eu compra um livro que já leu quando ele ganha um novo tradutor, por exemplo. Um maluco como eu compra um livro que já leu quando surge uma edição comemorativa, por exemplo. Um maluco como eu compra um livro que já leu quando julga que a nova diagramação dada a obra é por si só uma verdadeira obra de arte...e por aí vão os mais variados motivos que talvez um outro apaixonado por livros entenda.

E entre uma pilha de livro e outra, nasce mais um rabisco:

Meus amigos da estante
Dão conselhos a todo instante
Servem de espelho aos navegantes
Um GPS dos errantes...
...aos que buscam alguma salvação...
Meus amigos da estante
encontrarão outras mãos
Que sejam apaixonantes
Como foram nos meus dias de solidão

Aliviam um coração diletante
Que segue em frente enfrentando
Sejam moinhos de ventos ou gigantes
Tantos desafios que mudaram de tamanho

Se tudo é uma metáfora
Se tudo for questão de opinião
Se não houver sentido
Serão eles oásis em dias de desertificação

Daqui da poltrona viaja a imaginação
Vejo o lobo da estepe enfrentar...
...seus cem anos de solidão...
Os cegos do Saramago ensaiam...
...uma visita a montanha mágica...
...escrevem o diário de um ladrão

Daqui da poltrona parece tão real
O retrato de Wilde
Um crime com um castigo tão natural
É sempre um velho sonho...
...de uma noite de verão...