sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um Feliz Ano Novo!


Por saber que ainda há quem sonhe por aí; por saber que há quem acredite em dias melhores por conta destes sonhos que teimam em surgir e - além disto - por ter a certeza de que temos força para transformar desertos em jardins, pois quantas não foram as vezes que transformamos realidades quando tudo parecia ser o fim...por saber de tudo isto e por mais que saber, mas sentir é que continuo tentando fazer de mim alguém que possa contribuir para que tais dias possam chegar.

Os dias em que tenhamos a alma de um poeta ao enxergar o amanhã florescer depois de tantas noites sonhando com paz. O dia em que qualquer pessoa possa perceber o quão forte e frágil é o milagre de existir, para só então transformar a existência em viver, enxergando a beleza de estarmos aqui de forma tão passageira, tão misteriosa, tão repleta de riquezas mais importantes do que as riquezas que a gente aprendeu a contabilizar.

É o que vejo quando sou desperto por um céu azul, como quando criança em que olhava as nuvens tomando a forma do que eu conseguia imaginar. É o que vejo, o que se desperta quando estou a me indignar por termos conseguido conquistar o espaço e ainda estarmos tão longe de nos conquistar, de repartir com o outro, do quanto somos diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Do quanto levamos o ser humano para fora da Terra e do quanto ainda falta para levar humanidade para dentro de cada um de nós.

É o que é possível ficar a pensar, seja no brilho da manhã com as multidões em busca de suas razões; ou na solidão da noite quando as almas ditam o quanto a existência passa a pesar. É quando penso comigo mesmo o quanto ainda tenho a aprender, a fazer e a sonhar; sem querer ser melhor que ninguém, mas sempre por ambicionar ser melhor que eu mesmo a cada dia que ainda acordar. Até dormir de vez! Então, que não seja eu mesmo a me roubar o direito de sonhar. 

Não sei o que vai vir depois que este sono profundo me apagar. Não sei se foi uma missão, ou acaso; se houve sentido, ou criei sentidos ao caminhar...o que sempre acreditei é que as dúvidas nunca diminuíram em nada o maravilhoso milagre de aqui me encontrar, entre trocas de olhares, apertos de mão, entre amigos, entre dias ruins e outros bons, entre os momentos de silêncio onde nada tinha que falar, mas apenas sentir o quanto o mundo consegue me oferecer e o quanto eu preciso me doar. 

Doar-me ao amor, aos amigos que fiz, aos desconhecidos que estão por aí e que um simples ato meu pode os afetar. Quantas palavras eu já proferi sem saber se magoei ou se consegui salvar; quantos sonhos já perdi; quantos dias eu apenas deixei passar. Quantas vezes eu fui o pior de mim e alguém me despertou do caminho que daria em mau fim simplesmente por se doar. 

É o que vejo no tempo que nos leva; naqueles que o tempo já levou e que deixaram muito de si; nos que ainda virão e aprenderão o que nunca ousei saber, o que nunca consegui sequer imaginar. Será que o que eles vão aprender irá ensinar as conquistas mais importantes a se fazer...a distância maior que temos a percorrer não está entre galáxias; está entre o hoje e o futuro que queremos deixar. Está em perceber o milagre que nos foi dado ao amanhã acordarmos neste terreno fértil às sementes que nossos sonhos ainda podem jogar. 

Feliz Ano Novo, meus caros!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Vida de Chato...


A gente vai se acostumando a uma ilógica subliminar que nos sequestra o sentido (se é que sentido há!). Rabisquei a frase em um guardanapo, numa cafeteria do shopping-center enquanto conversava com um amigo, esperando minha esposa e minha filha retornarem das famosas compras de natal.

Shopping lotado. Promoções a rodo. Todo tipo de facilidade. Vendas à prazo. Do lado das lojas e também do nosso lado. Explico: pagamos caro para levar porrada. Entrei em uma das lojas em que se vendia a capinha para iPhone com propaganda da Coca-cola. Ok, qual é a lógica? Indaguei ao vendendor: “eu tenho que pagar para virar outdoor do que é produto alheio?”. Ele me responde: “você não entende, senhor...!”.

Pode não explicar. É, eu não entendo!

Em alguns poucos segundos na mesma loja assisti a uma discussão entre o vendendor e uma cliente que queria devolver a capinha que tinha comprado um dia antes. O motivo: ela reclamava do produto, pois a capa em questão não tinha uma abertura circular que permitisse aparecer a maçã mordida da Apple. “Ela fica escondida, daí ninguém sabe que eu estou com o iPhone”. Eu achava que a função do aparelho era outra quando comprei o meu.

Na cafeteria, contabilizei 200 pessoas em cinco minutos: todas em padrão igual...cabelo, roupa, peso, tendências...! Saio em busca de um DVD para assistir ao chegar em casa. Eu: “tem o filme tal?”. O vendendor: “tem senhor, mas só vende a trilogia”. Eu: “E se eu não quiser os outros dois?”. O vendendor: “mas, é uma promoção senhor”. Promoção para quem? Para mim?! O vendendor explica: “levar os três é mais caro que levar um, mas se o senhor divide, o filme fica mais barato no valor unitário...”. Ah, tá! 

Incrível. Saindo do shopping recebo uma ligação da minha operadora celular, me presenteando com a “excelente oportunidade exclusiva” - TODOS DEVEM TER RECEBIDO LIGAÇÃO SEMELHANTE - de entrar na fila de espera para comprar o iPhone 5 que custa “senhor, R$ 2.659” (acho que era isso). “Olha só senhor, não é incrível?”. É para eu responder “sim, é incrível. Muito grato”! É isso?! 

Em casa folheio o novo livro do Sandes. Ele relata casos em que o tempo virou dinheiro mesmo. Ele relata uma empresa que cobra mais caro dos clientes para que eles se livrem das filas. Os que não podem pagar um pouco mais caro, que na fila continuem. Em um local, citado também por Sandes, guardar lugar na fila virou profissão especializada. Daqui a pouco os caras tem sindicato e ganham preferências normatizadas para se diferenciarem do simples cidadão que só precisa do lugar na fila. 

Lembrei do livro no dia seguinte. O motivo? Fui colocar o carro para lavar. O cara me explica assim:”senhor, vai demorar cerca de cinco horas por conta da fila. Mas, se o senhor quiser lavar com a cera X que custa apenas R$ X a mais, podemos passar o senhor na frente, já que é um serviço especializado para clientes Vips”. Hã?! Que?! Eu sou o único maluco que esperei cinco horas honestamente. Deixei o carro e fui fazer outras coisas. Chego depois do tempo combinado. Meu carro não estava pronto. Claro, como pude ser tão otário. Tinha uma galera disposta a usar a CERA X. 

E na sala de aula: “professor, tem uma maneira mais fácil de aprender isto sem precisar estudar?”. Problemas com o “no pain, no gain”. Só o “gain” please, poderiam dizer. Corte superficial para não sentir dor. E assim a gente segue sem nos permitir estranhar o estranho. Sem questionar o ilógico. 

Liga-me alguém de uma revista X pedindo que escrevesse um artigo. Perguntei quanto iriam pagar pelo texto. Os caras se sentiram ofendidos, pois era uma oportunidade para mim! Para mim?! Imaginei na hora: alguém ligando para um cirurgião pedindo que ele fizesse uma cirurgia e se sentisse ofendido com o preço, afinal é uma oportunidade única para o médico. Eu escolhi escrever por profissão, saca?! Como o cirurgião escolheu o ramo dele. Qual a diferença?! Pela lógica do mundo minha atividade não é tão nobre.

Lembro-me do dia em que uma moça de uma magazine perguntou - antes mesmo de eu entrar na loja em questão - se que queria “fazer um cartão de crédito”. Eu estava de bom humor. Respondi que sim e me ofereci a lista imensa de perguntas que eles fazem. Até a moça perguntar: “Qual profissão, senhor?”. Eu: “Poeta”. A cara de espanto da mulher foi indiscritível. Ela fechou o  bloquinho e disse que não passaria na análise de crédito. É poesia tá sem crédito mesmo...hehehehe!

Por fim, a resposta que sempre dou a pergunta “senhor, aceita o troco em balinhas?”. Eu: “desde que amanhã eu possa voltar aqui e pagar o que eu pedir com balinhas também?”. Há uma ilógica nestes episódios, ou o chato sou eu mesmo?! 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sobre a obra de Pablo de Carvalho...


Iniciei a leitura de Catracas Púpuras do escritor Pablo de Carvalho. Ele é um amigo, pelo qual tenho uma admiração incrível. Admiração esta que me permitiu – por exemplo – a sinceridade extrema de dizer que não gostei de um de seus livros, o Eunuco (acho que este é o título). Quem é meu amigo, tem conviver com minhas opiniões sinceras. Caso não queira, a porta é a serventia da casa.

Mas, para minha felicidade, pude não me paralisar nas primeiras impressões e seguir lendo o próximo: o maravilhoso e surpreendente Iulana. Um livro de um lirismo nas linhas e nas entrelinhas. Iulana foi uma obra que reverenciei em uma crítica que escrevi em um dos jornais que trabalhei.

Agora, Pablo de Carvalho lança Catracas Púrpuras. Abri o livro pensando: “esse cara não vai conseguir superar o que me fez sentir ao ler Iulana”. Eis que ele consegue, logo nos dois primeiros capítulos. Eu senti a necessidade de conversar com Carvalho – como fizemos certa vez, tomando algumas cervejas na varanda do apartamento dele – sobre a construção de cada frase, a concepção de algumas anáforas maravilhosas ali presente, a inserção do lirismo no áspero ato de um assassinato, de um estupro (como descreve o livro no segundo capítulo), sem tirar a nudez e a crueldade da cena.

Cito trecho como exemplo: “o pai ferido espalha pela mesa do delegado de polícia a maquete da tumba, mata a filha novamente, chora sangue puríssimo, quase pastoso, a esbravejar”. Dentro do contexto se faz forte, mas sem exageros. 

Aquele lado da provocação do choque gratuito que me fez rejeitar Eunuco, não surge em Catracas Púrpuras. Aqui se vê o amadurecimento de um escritor cujas entrelinhas transpira Dostoievski de um Crime e Castigo, um Nietzsche indagando – de forma lírica – de quanta verdade é capaz de suportar o espírito? E pra quê tanta firula da minha parte. Bem, para dizer no final das contas o que depois de duas cervejas se resumiria: “O LIVRO É BOM PRA CARALHO!!!!”.

Chamou-me atenção também o casamento perfeito entre os títulos dos capítulos e seus conteúdos. Ainda não terminei de ler, mas até o presente momento vem casando de forma assombrosa, deixando ali visível o escritor que não é preguiçoso, que se debruça sobre a sua matéria-prima sempre buscando o melhor de si. A função poética transcorrendo sem perder a referência de um realismo, seco, duro, objetivo que me atrai muito na literatura. 

No capítulo Os Cavalos, outra belíssima construção poética: “o sol estreita os ombros para entrar nos becos dos vitrais”. Fotográfico.  O livro ainda traz uma intertextualidade que vão de clássicos da literatura ao Evangelho associado ao ceticismo.

Falar sobre o enredo do livro? Jamais. É uma obra que indico. Surpreendam-se com ela. Catracas Púrpuras merece o debruçar do leitor. É Literatura, do entretenimento à arte. Bom encontrar obras assim em tempos em que vampiros e lobisomens que ficam o dia todo em frente à penteadeira. 

sábado, 15 de dezembro de 2012

Dos debates e do convencimento


Christopher Hitchens tem um livro chamado Cartas a um Jovem Contestador. Acho um belo livro e costumo indicar para estudantes de jornalismo que me pedem dicas de leitura.  Não é um livro técnico, mas é MUITO BOM. 

Não entro no mérito da crença política, nem da religiosa, de Hitchens. Por sinal, há pontos em que discordo dele, mesmo comungando do ceticismo. Mas, reconheço que é uma boa leitura. Não só a obra citada, mas outros livros também valem a pena. Conheçam o autor ; quem não conhecer. 

Faz parte do processo do debate - no jornalismo - trabalhar com argumentações. E bons textos, ajudam ao processo da formação da lógica na exposição das ideias. É como ler John Lennox e Richard Dawkins. São autores que vivem debatendo. Um rebate as ideias do outro. 

Dawkins com o ateísmo presente em muitas obras. Lennox com a defesa do cristianismo. E aí, apesar de não ser cristão, reconheço que Lennox tem uma obra maravilhosa. Pelo que lembro chama-se Por que a Ciência Não Conseguiu Enterrar Deus. Vai para além do discurso de Deus das Lacunas e consegue rebater Dawkins - com quem simpatizo mais - com bastante elegância e argumentos sólidos. 

O que mostra que é possível reconhecer a genialidade do oponente, mesmo questionando este. Faz parte. Quem for procurar no Youtube, há um debate legal entre Dawkins e Lennox. Às vezes até revejo. Este tipo de debate maduro existe também em Hitchens, que usa da ironia, mas não como objetivo de humilhar o outro lado, mas sim de dar boa cores à discussão. Uma função poética ao lado persuasivo que - infelizmente! - ainda há muita gente que finge não enxergar isto. 

Os politicamente corretos enxergam aqui a agressividade, quando ela não há. Como digo: um dos sinais da desonestidade intelectual é ler o que não está escrito para se combater o que se gostaria que estivesse escrito. Desonestidade pura. O argumento ausente pode ser constatado pela adjetivação pura e a inconsistência, ao invés da sutil ironia, ou até mesmo da relação lógica que alguns autores trazem. 

Cito também - e aí, bem maior do que todos já citados! - o poder de argumentação encontrado nas falas de Olavo de Carvalho. Este - brasileiro! - um grande debatedor, que não se esconde, que não foge. Sim, tenho divergências com ele. Mas, reconheço sua grandeza. Por vezes, fui dormir convencido de coisas que ele falava, até pesquisar, estudar, beber nas fontes que ele cita, buscar, buscar, buscar para conseguir rebater. Por vezes, fui convencido. 

Afinal, posso - e me dou o direito - mudar de opinião se o argumento for bom e mostrar a clareza de sua verdade. Não faço o relativismo proselitista. É nessas entrelinhas que mora o demônio (no sentido conotativo, evidentemente). Quando me abro ao bom debate, abro espaço também para a possibilidade de sair uma outra pessoa de dentro dele, mais rica do que quando o entrei e por esta razão, valorizo tanto o processo da discussão sadia. Do bom combate, como costumo dizer. 

Voltando a Hitchens, lembro como me emocionei, quando ele falava do debate de ideias em seu último livro, quando fala da luta travada com o câncer. Morreu coerente aos seus princípios. Admirável. Mesma admiração que se pode encontrar - por exemplo - em Oscar Niemeyer, mesmo eu discordando completamente de sua linha ideológica. O que não ocorre com Hitchens. 

Crescer por meio do diálogo faz parte da vida. Agora, neste processo é preciso identificar os falsos profetas e a venda dos mitos. Estes devem ser denunciados, revelados, desnudados sempre que possível. Querem a confusão mental, o argumento insípido, vazio, o mar turvo, querem jogar alhos com bugalhos para arrebatar os inocentes em nome de causas que na verdade são as máscaras de seus interesses mesquinhos. 

Não buscam a si mesmos por um instante sequer no processo dos questionamentos. Partem da cegueira. Do cavaleiro inexistente dito lá por Ítalo Calvino. Sei que este sempre estarão prontos para enfiarem espadas pelas costas, mas não são do meu time. Sempre andei de cabeça erguida e pronto para a troca de ideias. Se convencido for, cresço com a outra opinião, com a outra visão posta, com a humildade que sempre busquei ter no processo que sempre encarei como um aprendizado e não como um doutrinamento.