sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um Feliz Ano Novo!


Por saber que ainda há quem sonhe por aí; por saber que há quem acredite em dias melhores por conta destes sonhos que teimam em surgir e - além disto - por ter a certeza de que temos força para transformar desertos em jardins, pois quantas não foram as vezes que transformamos realidades quando tudo parecia ser o fim...por saber de tudo isto e por mais que saber, mas sentir é que continuo tentando fazer de mim alguém que possa contribuir para que tais dias possam chegar.

Os dias em que tenhamos a alma de um poeta ao enxergar o amanhã florescer depois de tantas noites sonhando com paz. O dia em que qualquer pessoa possa perceber o quão forte e frágil é o milagre de existir, para só então transformar a existência em viver, enxergando a beleza de estarmos aqui de forma tão passageira, tão misteriosa, tão repleta de riquezas mais importantes do que as riquezas que a gente aprendeu a contabilizar.

É o que vejo quando sou desperto por um céu azul, como quando criança em que olhava as nuvens tomando a forma do que eu conseguia imaginar. É o que vejo, o que se desperta quando estou a me indignar por termos conseguido conquistar o espaço e ainda estarmos tão longe de nos conquistar, de repartir com o outro, do quanto somos diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Do quanto levamos o ser humano para fora da Terra e do quanto ainda falta para levar humanidade para dentro de cada um de nós.

É o que é possível ficar a pensar, seja no brilho da manhã com as multidões em busca de suas razões; ou na solidão da noite quando as almas ditam o quanto a existência passa a pesar. É quando penso comigo mesmo o quanto ainda tenho a aprender, a fazer e a sonhar; sem querer ser melhor que ninguém, mas sempre por ambicionar ser melhor que eu mesmo a cada dia que ainda acordar. Até dormir de vez! Então, que não seja eu mesmo a me roubar o direito de sonhar. 

Não sei o que vai vir depois que este sono profundo me apagar. Não sei se foi uma missão, ou acaso; se houve sentido, ou criei sentidos ao caminhar...o que sempre acreditei é que as dúvidas nunca diminuíram em nada o maravilhoso milagre de aqui me encontrar, entre trocas de olhares, apertos de mão, entre amigos, entre dias ruins e outros bons, entre os momentos de silêncio onde nada tinha que falar, mas apenas sentir o quanto o mundo consegue me oferecer e o quanto eu preciso me doar. 

Doar-me ao amor, aos amigos que fiz, aos desconhecidos que estão por aí e que um simples ato meu pode os afetar. Quantas palavras eu já proferi sem saber se magoei ou se consegui salvar; quantos sonhos já perdi; quantos dias eu apenas deixei passar. Quantas vezes eu fui o pior de mim e alguém me despertou do caminho que daria em mau fim simplesmente por se doar. 

É o que vejo no tempo que nos leva; naqueles que o tempo já levou e que deixaram muito de si; nos que ainda virão e aprenderão o que nunca ousei saber, o que nunca consegui sequer imaginar. Será que o que eles vão aprender irá ensinar as conquistas mais importantes a se fazer...a distância maior que temos a percorrer não está entre galáxias; está entre o hoje e o futuro que queremos deixar. Está em perceber o milagre que nos foi dado ao amanhã acordarmos neste terreno fértil às sementes que nossos sonhos ainda podem jogar. 

Feliz Ano Novo, meus caros!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Vida de Chato...


A gente vai se acostumando a uma ilógica subliminar que nos sequestra o sentido (se é que sentido há!). Rabisquei a frase em um guardanapo, numa cafeteria do shopping-center enquanto conversava com um amigo, esperando minha esposa e minha filha retornarem das famosas compras de natal.

Shopping lotado. Promoções a rodo. Todo tipo de facilidade. Vendas à prazo. Do lado das lojas e também do nosso lado. Explico: pagamos caro para levar porrada. Entrei em uma das lojas em que se vendia a capinha para iPhone com propaganda da Coca-cola. Ok, qual é a lógica? Indaguei ao vendendor: “eu tenho que pagar para virar outdoor do que é produto alheio?”. Ele me responde: “você não entende, senhor...!”.

Pode não explicar. É, eu não entendo!

Em alguns poucos segundos na mesma loja assisti a uma discussão entre o vendendor e uma cliente que queria devolver a capinha que tinha comprado um dia antes. O motivo: ela reclamava do produto, pois a capa em questão não tinha uma abertura circular que permitisse aparecer a maçã mordida da Apple. “Ela fica escondida, daí ninguém sabe que eu estou com o iPhone”. Eu achava que a função do aparelho era outra quando comprei o meu.

Na cafeteria, contabilizei 200 pessoas em cinco minutos: todas em padrão igual...cabelo, roupa, peso, tendências...! Saio em busca de um DVD para assistir ao chegar em casa. Eu: “tem o filme tal?”. O vendendor: “tem senhor, mas só vende a trilogia”. Eu: “E se eu não quiser os outros dois?”. O vendendor: “mas, é uma promoção senhor”. Promoção para quem? Para mim?! O vendendor explica: “levar os três é mais caro que levar um, mas se o senhor divide, o filme fica mais barato no valor unitário...”. Ah, tá! 

Incrível. Saindo do shopping recebo uma ligação da minha operadora celular, me presenteando com a “excelente oportunidade exclusiva” - TODOS DEVEM TER RECEBIDO LIGAÇÃO SEMELHANTE - de entrar na fila de espera para comprar o iPhone 5 que custa “senhor, R$ 2.659” (acho que era isso). “Olha só senhor, não é incrível?”. É para eu responder “sim, é incrível. Muito grato”! É isso?! 

Em casa folheio o novo livro do Sandes. Ele relata casos em que o tempo virou dinheiro mesmo. Ele relata uma empresa que cobra mais caro dos clientes para que eles se livrem das filas. Os que não podem pagar um pouco mais caro, que na fila continuem. Em um local, citado também por Sandes, guardar lugar na fila virou profissão especializada. Daqui a pouco os caras tem sindicato e ganham preferências normatizadas para se diferenciarem do simples cidadão que só precisa do lugar na fila. 

Lembrei do livro no dia seguinte. O motivo? Fui colocar o carro para lavar. O cara me explica assim:”senhor, vai demorar cerca de cinco horas por conta da fila. Mas, se o senhor quiser lavar com a cera X que custa apenas R$ X a mais, podemos passar o senhor na frente, já que é um serviço especializado para clientes Vips”. Hã?! Que?! Eu sou o único maluco que esperei cinco horas honestamente. Deixei o carro e fui fazer outras coisas. Chego depois do tempo combinado. Meu carro não estava pronto. Claro, como pude ser tão otário. Tinha uma galera disposta a usar a CERA X. 

E na sala de aula: “professor, tem uma maneira mais fácil de aprender isto sem precisar estudar?”. Problemas com o “no pain, no gain”. Só o “gain” please, poderiam dizer. Corte superficial para não sentir dor. E assim a gente segue sem nos permitir estranhar o estranho. Sem questionar o ilógico. 

Liga-me alguém de uma revista X pedindo que escrevesse um artigo. Perguntei quanto iriam pagar pelo texto. Os caras se sentiram ofendidos, pois era uma oportunidade para mim! Para mim?! Imaginei na hora: alguém ligando para um cirurgião pedindo que ele fizesse uma cirurgia e se sentisse ofendido com o preço, afinal é uma oportunidade única para o médico. Eu escolhi escrever por profissão, saca?! Como o cirurgião escolheu o ramo dele. Qual a diferença?! Pela lógica do mundo minha atividade não é tão nobre.

Lembro-me do dia em que uma moça de uma magazine perguntou - antes mesmo de eu entrar na loja em questão - se que queria “fazer um cartão de crédito”. Eu estava de bom humor. Respondi que sim e me ofereci a lista imensa de perguntas que eles fazem. Até a moça perguntar: “Qual profissão, senhor?”. Eu: “Poeta”. A cara de espanto da mulher foi indiscritível. Ela fechou o  bloquinho e disse que não passaria na análise de crédito. É poesia tá sem crédito mesmo...hehehehe!

Por fim, a resposta que sempre dou a pergunta “senhor, aceita o troco em balinhas?”. Eu: “desde que amanhã eu possa voltar aqui e pagar o que eu pedir com balinhas também?”. Há uma ilógica nestes episódios, ou o chato sou eu mesmo?! 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sobre a obra de Pablo de Carvalho...


Iniciei a leitura de Catracas Púpuras do escritor Pablo de Carvalho. Ele é um amigo, pelo qual tenho uma admiração incrível. Admiração esta que me permitiu – por exemplo – a sinceridade extrema de dizer que não gostei de um de seus livros, o Eunuco (acho que este é o título). Quem é meu amigo, tem conviver com minhas opiniões sinceras. Caso não queira, a porta é a serventia da casa.

Mas, para minha felicidade, pude não me paralisar nas primeiras impressões e seguir lendo o próximo: o maravilhoso e surpreendente Iulana. Um livro de um lirismo nas linhas e nas entrelinhas. Iulana foi uma obra que reverenciei em uma crítica que escrevi em um dos jornais que trabalhei.

Agora, Pablo de Carvalho lança Catracas Púrpuras. Abri o livro pensando: “esse cara não vai conseguir superar o que me fez sentir ao ler Iulana”. Eis que ele consegue, logo nos dois primeiros capítulos. Eu senti a necessidade de conversar com Carvalho – como fizemos certa vez, tomando algumas cervejas na varanda do apartamento dele – sobre a construção de cada frase, a concepção de algumas anáforas maravilhosas ali presente, a inserção do lirismo no áspero ato de um assassinato, de um estupro (como descreve o livro no segundo capítulo), sem tirar a nudez e a crueldade da cena.

Cito trecho como exemplo: “o pai ferido espalha pela mesa do delegado de polícia a maquete da tumba, mata a filha novamente, chora sangue puríssimo, quase pastoso, a esbravejar”. Dentro do contexto se faz forte, mas sem exageros. 

Aquele lado da provocação do choque gratuito que me fez rejeitar Eunuco, não surge em Catracas Púrpuras. Aqui se vê o amadurecimento de um escritor cujas entrelinhas transpira Dostoievski de um Crime e Castigo, um Nietzsche indagando – de forma lírica – de quanta verdade é capaz de suportar o espírito? E pra quê tanta firula da minha parte. Bem, para dizer no final das contas o que depois de duas cervejas se resumiria: “O LIVRO É BOM PRA CARALHO!!!!”.

Chamou-me atenção também o casamento perfeito entre os títulos dos capítulos e seus conteúdos. Ainda não terminei de ler, mas até o presente momento vem casando de forma assombrosa, deixando ali visível o escritor que não é preguiçoso, que se debruça sobre a sua matéria-prima sempre buscando o melhor de si. A função poética transcorrendo sem perder a referência de um realismo, seco, duro, objetivo que me atrai muito na literatura. 

No capítulo Os Cavalos, outra belíssima construção poética: “o sol estreita os ombros para entrar nos becos dos vitrais”. Fotográfico.  O livro ainda traz uma intertextualidade que vão de clássicos da literatura ao Evangelho associado ao ceticismo.

Falar sobre o enredo do livro? Jamais. É uma obra que indico. Surpreendam-se com ela. Catracas Púrpuras merece o debruçar do leitor. É Literatura, do entretenimento à arte. Bom encontrar obras assim em tempos em que vampiros e lobisomens que ficam o dia todo em frente à penteadeira. 

sábado, 15 de dezembro de 2012

Dos debates e do convencimento


Christopher Hitchens tem um livro chamado Cartas a um Jovem Contestador. Acho um belo livro e costumo indicar para estudantes de jornalismo que me pedem dicas de leitura.  Não é um livro técnico, mas é MUITO BOM. 

Não entro no mérito da crença política, nem da religiosa, de Hitchens. Por sinal, há pontos em que discordo dele, mesmo comungando do ceticismo. Mas, reconheço que é uma boa leitura. Não só a obra citada, mas outros livros também valem a pena. Conheçam o autor ; quem não conhecer. 

Faz parte do processo do debate - no jornalismo - trabalhar com argumentações. E bons textos, ajudam ao processo da formação da lógica na exposição das ideias. É como ler John Lennox e Richard Dawkins. São autores que vivem debatendo. Um rebate as ideias do outro. 

Dawkins com o ateísmo presente em muitas obras. Lennox com a defesa do cristianismo. E aí, apesar de não ser cristão, reconheço que Lennox tem uma obra maravilhosa. Pelo que lembro chama-se Por que a Ciência Não Conseguiu Enterrar Deus. Vai para além do discurso de Deus das Lacunas e consegue rebater Dawkins - com quem simpatizo mais - com bastante elegância e argumentos sólidos. 

O que mostra que é possível reconhecer a genialidade do oponente, mesmo questionando este. Faz parte. Quem for procurar no Youtube, há um debate legal entre Dawkins e Lennox. Às vezes até revejo. Este tipo de debate maduro existe também em Hitchens, que usa da ironia, mas não como objetivo de humilhar o outro lado, mas sim de dar boa cores à discussão. Uma função poética ao lado persuasivo que - infelizmente! - ainda há muita gente que finge não enxergar isto. 

Os politicamente corretos enxergam aqui a agressividade, quando ela não há. Como digo: um dos sinais da desonestidade intelectual é ler o que não está escrito para se combater o que se gostaria que estivesse escrito. Desonestidade pura. O argumento ausente pode ser constatado pela adjetivação pura e a inconsistência, ao invés da sutil ironia, ou até mesmo da relação lógica que alguns autores trazem. 

Cito também - e aí, bem maior do que todos já citados! - o poder de argumentação encontrado nas falas de Olavo de Carvalho. Este - brasileiro! - um grande debatedor, que não se esconde, que não foge. Sim, tenho divergências com ele. Mas, reconheço sua grandeza. Por vezes, fui dormir convencido de coisas que ele falava, até pesquisar, estudar, beber nas fontes que ele cita, buscar, buscar, buscar para conseguir rebater. Por vezes, fui convencido. 

Afinal, posso - e me dou o direito - mudar de opinião se o argumento for bom e mostrar a clareza de sua verdade. Não faço o relativismo proselitista. É nessas entrelinhas que mora o demônio (no sentido conotativo, evidentemente). Quando me abro ao bom debate, abro espaço também para a possibilidade de sair uma outra pessoa de dentro dele, mais rica do que quando o entrei e por esta razão, valorizo tanto o processo da discussão sadia. Do bom combate, como costumo dizer. 

Voltando a Hitchens, lembro como me emocionei, quando ele falava do debate de ideias em seu último livro, quando fala da luta travada com o câncer. Morreu coerente aos seus princípios. Admirável. Mesma admiração que se pode encontrar - por exemplo - em Oscar Niemeyer, mesmo eu discordando completamente de sua linha ideológica. O que não ocorre com Hitchens. 

Crescer por meio do diálogo faz parte da vida. Agora, neste processo é preciso identificar os falsos profetas e a venda dos mitos. Estes devem ser denunciados, revelados, desnudados sempre que possível. Querem a confusão mental, o argumento insípido, vazio, o mar turvo, querem jogar alhos com bugalhos para arrebatar os inocentes em nome de causas que na verdade são as máscaras de seus interesses mesquinhos. 

Não buscam a si mesmos por um instante sequer no processo dos questionamentos. Partem da cegueira. Do cavaleiro inexistente dito lá por Ítalo Calvino. Sei que este sempre estarão prontos para enfiarem espadas pelas costas, mas não são do meu time. Sempre andei de cabeça erguida e pronto para a troca de ideias. Se convencido for, cresço com a outra opinião, com a outra visão posta, com a humildade que sempre busquei ter no processo que sempre encarei como um aprendizado e não como um doutrinamento. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A lógica do XISTCHEMA!


“Qual é a desses caras? O que é que é normal?”. Explico o contexto das duas perguntas: eu as fiz “a minha própria pessoa” quando escutava no rádio de um carro uma entrevista de um candidato a algum cargo que dizia que as acusações feitas, as baixarias, as declarações odiosas deveriam ser deixadas para trás porque havia acabado a campanha. “Passou. Era coisa de campanha. Agora, desarmado o palanque”.

Opa! Espera lá! O que é que é normal? Qual é a desses caras? Então é oficial! Está admitido que durante um certo tempo é temporada de caça, vale tudo, até dedo no olho e chute no saco. E quando se vira a página traz o buquê de flores e tapinhas nas costas. E do outro lado, eu me indago: é preciso ser mesmo muito imbecil ouvir isso e achar que tem uma certa lógica. A lógica do “xistchema” (como falava um estrategista de marketing). E os imbecis - advinha?! - somos nós! 

Mais tarde, o mesmo candidato sai com uma frase típica do pensamento: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Saca só: “É do jogo eleitoral acomodar interesses para formar alianças e agora dividir espaços”. E a cada dia que passa, os CARAS combinam menos com o eleitor. É um xadrez deles e ponto final. Somos apenas uma via de acesso. Um muro facilmente transponível que separa esse tipo de gente do pote de ouro. Esse tipo de gente que mente deliberadamente quando montam o aparato de guerra e depois confortavelmente se instalam no caos para lucrar com ele. 

E nós notamos isto? E nós indagamos: qual é a desses caras? Não! Também encaramos como natural. Aderimos a lógica do “xistchema”. Aderimos ao pagar para sofrer. Sim, pois nada é de graça. A conta é alta e somos nós que pagamos. A naturalidade com que ocorre facilmente o que não é natural é mesmo de espantar! O caráter de alguém não muda em função de uma eleição. Apenas, aflora o que há de pior no jogo do poder. Os podres se apontam com as mãos sujas. Depois - com as mesmas mãos sujas - dão as mãos e se abraçam. 

Uma valsa segue quando desmontados os palanques. Será que não chegou a hora de nós desarmarmos os palanques destes caras...e para sempre? Desarmar durante o processo no qual eles acham que do pescoço para baixo é canela; desarmar no período no qual eles abrem mão do que nunca tiveram: ética. Como é possível abrir mão do que nunca se teve? Sim, eis uma ironia. Não se trata de pregar uma revolução. Ou de ser progressista e blá blá blá. Pensem em dois vocábulos vazios nas mãos de idiotas que possuem graves patologias ideológicas. 

Longe disso. Trata-se apenas de parar e acordar diante daquilo que é “natural”. Tem certas frases que é preciso ser muito cara-de-pau para dizer em público. Há quem diga com uma espantosa naturalidade diante da óptica da lógica do “xistchema”. E ao fim desse texto tem sempre a galera que vai procurar classificar o que aqui está dito entre um monte de “ismos”. Será o babaquismo - então - corrente dominante? Puta merda! Por vezes, eu acho que é sim! “Tá dominado; tá tudo dominado” pode ir lá e falar o que quiser. Vai lá na rádio e fala o que quiser. O espaço é teu; o aplauso é teu e ninguém vai ler as linhas, muito menos as entrelinhas de qualquer discurso. 

No máximo, alguém vai suspirar lamentando o processo em voz quase sussurrante: “é, é assim mesmo...é política”. Não! Não é política. Política é uma atividade nobre - posso ser ingênuo afirmando isto?! Talvez - cotidiano, na qual expomos pensamentos, abrimos debates, buscamos enxergar as liberdades individuais e avaliar democracia como um processo e não um produto. Admitimos imperfeições, aderimos a autocrítica, confrontamos valores e buscamos mudanças. Isto sim é política. Com foco nas ideias, no respeito e não em pessoas. Isto é política. Qual “ismo” há nisto? Espero que a resposta (muito menos a pergunta) fundamental seja essa! 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Coragem que é de coração!


Coragem sempre me pareceu sinônimo de “agir com o coração”. Nem sei se há algo - falando de etimologia - que remeta a isto. Sei que “cor” é coração. E “agem” é do verbo agir. Então, admitamos: quando as batidas do coração falam mais alto, agem por si só, indicam por onde desbravar. Sempre acreditei nesta voz interna e isto nada tem a ver com crenças transcendentais, mas sim com o fato de sermos desconhecidos - por muitas vezes - de nós mesmos. 

As turbulências do mar - pois sempre é turbulento. Há decisões importantes a cada segundo apesar da aparente calmaria - sempre nos cobra esta coragem. Caso contrário, frustramos a nós mesmos com nossas escolhas e acabamos ficando presos dentro delas. Lamentando rumos, caminhos, escolhas, enfim...por medo de encarar a coragem ficamos traçando planos em cima do mapa do tesouro sem nunca sair do lugar. Tantos caminhos entre o “onde estamos” e o “xis”, mas sem sair do lugar.

Entra na história do: falar é fácil; fazer é que é foda! Ou do sempre esperar o momento certo para fazer? Qual é o momento certo cara pálida? De esperas por momento certo se deixa de lado uma vida inteira. E o tempo é um cruel senhor dos destinos (ou do acaso! Vai saber!). Saiba: não há tempo perdido. E é justamente por isto que a centelha queima. É fogo que se espalha e não há tempo a perder. Entre vestir a coragem e vestir o paletó de madeira está o significado da vida. Se não é transcendental, nós criamos. Mas seja um, ou o outro, estará sempre nesta lacuna. Sacou?

Não dá para tirar solo de guitarra sem corda. Não dá para aprender violão sem ter calo nos dedos. Não dá para assar pão com o forno aberto. Não dá para seguir sem coragem. Pode até fazer algo para existir, mas duvido que seja possível viver em seu sentido mais amplo. Coragem, obstinação e fé em si mesmo. Um tripé de fundamental importância. Sobretudo quando você está nos dias de caminhar contra a multidão e em silêncio. Ir contra a maré requer remar mais forte e - advinha! - ter muito mais coragem. 

Gosto do verso de uma canção do Raul Seixas: “Coragem, coragem, coragem...se o que você quer é aquilo que pensa e faz. Coragem, coragem, eu sei que você pode mais”. Simples, mas é isto. De coração e com ação, você pode mais. Lembra das margens daquele precipício? A olho nu era impossível pular. Parecia o fim do mundo. Mas com os aparelhos sofisticados da coragem, o precipício ficou para trás. Pontes que sabe-se lá depois como você conseguiu construir, mas fez! 

No final das contas já foram tantos fins de mundo que a coragem fez do coração meio que uma arca de Noé. Guarda o que é bom. Deixa mais um dilúvio passar. Depois que dobrar a esquina, as ruas que foram desertas, que meteram medo, que nos deixaram atordoado, enfim...farão sentido, daremos sentidos a elas com o sabor das novas conquistas. Aliás, se eu não tivesse passado por onde passei fatalmente aqui não estaria. É pouco e simples, mas é de coração. 

É isso! 

Um "pê" "ésse":

Ah, e um amigo me disse assim: “Cara, eu gosto do Conversas de Quintas, mas tipo os textos são muito longos para a internet. Sabe como é: a galera tem pouco tempo, muito link, textos curtos te ajudariam a alcançar mais leitores”. 

Caramba, eu digo agora: coragem de não me moldar ao que o tempo pede, mas seguir com o que eu acredito. Parece loucura, utopia ou quixotesco, mas sempre acreditei que a minha maior prova de respeito ao meu leitor é não pensar nele enquanto escrevo. Se é que alguém me entende! É por isso que respeito demasiadamente quem aqui vem, ou quem vem no outro blog “profissional”. 

É o seguinte: eu estou oferecendo um xícara de café e um bom papo. Respeito se alguém quer água, frase feita e silêncio. Mas não é isso que emociona as cordas do meu violão. Logo, coragem para desligar o rádio quando começar a música da moda. :) Vamos para uma outra frequência... 


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Mundo vasto mundo...vasto mudo!


Mundo vasto mundo, mais fácil fazer rima do que fazer sentido ou achar solução! Eis que as madrugadas roubam o sentido da “lógica do sistema” e o mundo vasto mundo se encontra logo ali na esquina com uma caixa de lápis de cor para pintarmos novos valores, novas verdades, novas lógicas, novas poesias, novas artes, mas jamais - JAMAIS! - sentido absoluto para momentos em que buscamos um “algo” mais transcendental. 

Talvez, por entre versos, o sentido se faça.. A sina do poeta. Como a magia de um sol nascendo iluminando a sala; como a magia de um olhar que - em instantes - clareia tudo aquilo que o nosso coração teima em manter escondido dentro de si mesmo. Talvez por puro amor. Por celebrar a beleza de se estar vivo e só! 

Nas madrugadas, quando perco de vista a tal “lógica do sistema”, o pragmatismo das decisões; afasto o mundo prático, restrito, pequeno, dos sentidos tangenciáveis em funções das decisões sobre os pilares fundamentados dos valores...e dou de cara com um universo suscetível uma série de interrogações metafísicas, mas que não possuem qualquer pretensão de encontrar respostas transcendais. Talvez por desconfiar que tais respostas não existem.

O mergulho com hora marcada no mar a ser desbravado dentro do oceano denominado insônia. Neste instante, escrevo numa pequena folha de papel ao lado: que causa ainda emociona? Como é possível adotar um pragmatismo de forma tal que nos venha impedir de sonhar? Falo de “sonhar” em um sentido bem amplo. Não estou falando das metas factíveis com as quais sonhamos: o carro novo, o emprego novo, e por aí vai...falo sonhar de forma mais ampla dentro de um mundo vasto mundo onde o coração busca mais que rimas, talvez até mais que soluções. Sonhos metafísicos. 

Não se espantem, meus caros, apesar de no final desta fazer existir uma exclamação! O lirismo pode ser áspero, irônico e estar no muro de concreto cuja única função é esconder um jardim. O lirismo pode estar na insônia, pode estar na nostalgia, nas causas perdidas que teimam em nos encontrar (ou seria reencontrar). Não abandonamos versos, os trancafiamos em silêncio, varremos para baixo do tapete. Uma hora a coisa salta aos olhos. Fica visível no escuro da sala, aponta para todos os questionamentos que concentram o infinito na fumaça da xícara do café, na ponta do cigarro que se espreme contra o filtro até deixar de brilhar (serve até de metáfora para a vida humana).

Mas, nossa chama brilha sem filtros; entra na veia. Luz que se espalha. Centelha que ilumina. Coração que dispara. Respiração que foge ao controle no meio de uma madrugada. O mundo vasto mundo está te encarando do espelho. Vontade de chorar, gritar, silenciar, seguir, parar...enfim...fome de sentido diante de uma interrogação posta: a existência. Interrogação profunda que para alguns pode levar o epíteto de “crise existencial”. Aos pragmáticos, o sentido literal que pode sequer tangenciar o que falo agora. Aos insones, a certeza de que é bem mais difícil a conquista do espelho do que a corrida pela conquista do espaço!

Do eu do “dia-a-dia” para o eu insone, uma ponte. Apresento a ponte por onde passam as palavras que rompem o silêncio e que me trazem até aqui. Qual a bagagem destas palavras. Bem, uma mala onde cabe tudo e onde cabe o nada. Uma existência que toma a forma moldada por valores que me antecederam. Alguns contra os quais luto, outros que aceito. Mas serão eles pilares, acertos, verdades...vai saber! Na insônia, o mar é vasto...

Se por um lado a insônia pode ser vista como um mar vasto; por outro lado, é também uma ilha de onde contemplo o mundo em silêncio, mas mesmo assim em movimento. Sartre me dá razão, a insônia me dá a sensibilidade. Razão & Sensibilidade. Já tem um livro com esse nome né?! Putz, cheguei atrasado...

Mas, toda vez - em meio a estes turbilhões provenientes da insônia - sempre chego atrasado a algum sentido, como se fosse livre apenas para escolher minha própria prisão de crenças. É o que? Faz sentido? ido...ido...ido...ido...ido...? É, caros insones, o eco de nossas madrugadas. Mundo vasto mundo, é o que tens a responder. O eco rima, mas não é solução! 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Meus horizontes dentro do horizonte


Dos cantos da casa onde moro, talvez o que eu mais goste seja a varanda. Costumo dizer - em casa mesmo! - que lá fiz meu escritório. Uma pequena mesa e uma cadeira. Lá, é possível encarar a linha do horizonte. É bem verdade que esta vista diminuiu com o tempo. Mas, por entre prédios e outros pilares da selva de pedra (nada contra ela; só para usar a metáfora) ainda consigo tirar a cara do computador e contemplar o horizonte por meio de brechas. 
Observar o mesmo horizonte sempre me mostrou novos horizontes. É assim, por exemplo, quando - em alguns fins de tarde - ando pela orla. Sempre com o foco na linha que parece colar o céu com o mar. Qual a sensação? Bem, o horizonte é utopia, mas postas metas perfeccionistas em cima dele é possível definir um norte para chegar o mais perto possível de tais metas. Sempre fui um cara disciplinado neste sentido. Sempre fui de me impor tarefas, planos, metas e objetivos. 

Conquistado um é respirar fundo e partir para outro. Neste sentido, acumulei vitórias, derrotas e - metaforicamente! - já perdi dentes e levantei troféus. Tudo isto sem perder horizontes de vista. Sem deixar de saborear o vinho, mas sempre com a ciência de que se deve brindar às uvas. Buscar a meta, mas sem perder a beleza das pequenas conquistas paralelas do caminho. Até as conquistas não previstas. 

Os imprevistos são maravilhosos. Podem alterar a percepção do horizonte. Marinheiro que conhece os sete mares e em uma onda inesperada enxerga nestes mesmos mares um oitavo mar. Dá para entender? Acho que sim! Dos horizontes já tirei poemas. Olhando para os horizontes já fiquei rabiscando em guardanapos (lembra desse texto? Tá lá para baixo neste blog). Dos horizontes já tirei até planos para a profissão. Alguns deram certo; outros não. 

Foi em uma tarde, andando na orla - eu, o Ipod, minhas circunstâncias e o horizonte na cara - que decidi fazer o Blog do Vilar Ao Vivo. Uma hora depois liguei para o jornalista Carlos Melo informando do plano. Ele deu o “ok” na hora. Depois liguei para uma jornalista Laíse Moreira (GRANDE AMIGA) e pedi ajuda no projeto. Ela não só topou como enriqueceu a ideia e transformou no que o Blog do Vilar Ao Vivo é hoje: um talk-show (escreve assim? Preguiça de olhar no Google. Prefiro arriscar a escrita olhando a linha do horizonte...hehehehe). 

Foi em uma outra tarde, da varanda de casa, olhando o horizonte, eu, o Ipod, minhas circunstâncias, uma xícara de café e uma brecha apontando para o horizonte, que decidi pedir demissão da Tribuna Independente e investir em um projeto ainda embrionário que está nascendo (mas não estou autorizado a falar) e que pode dar certo. Espero que sim. No fim das contas, sabe aquela história de abandonar a zona de conforto? Pois é, acho que o olhar ao horizonte é um primo-irmão-gêmeo dela. 

As pessoas que me acompanham devem ficar malucas com minha “lógica ilógica” nas decisões, mas me guiaram até aqui. Fizeram-me conhecer o melhor e o pior de mim. Em alguns momentos foram ventos, em outros foram âncoras. E no final, mesmo as derrotas se transformaram em troféus na parede da memória. Como as cicatrizes. Com o tempo aprendi a encarar minhas cicatrizes como customização. Saca? É inevitável esta alquimia. Com o tempo, é sim inevitável. Pode crer! 

E por fim. Foi em uma outra tarde que - parado no engarrafamento - que virei para o lado, olhei o horizonte. Era uma quinta-feira e pensei no Conversas de Quinta. O blog perdeu a temporalidade. Não consegui manter o ritmo. Mas, foi um acerto e tanto do ponto de vista do confessionário. Para vocês entenderem qual é o sentimento eu posso afirmar que o Conversas de Quinta trouxe o horizonte para dentro do computador. 

Por vezes, um texto como este aponta para novos horizontes e lá vou eu construir pontes entre o local que estou agora e o horizonte que vejo. Óbvio que não o alcanço, mas o que se vai fazendo no caminho é impressionante. Poesia pura. Perdas e danos, danos e perdas...enfim, versos impressionantes em forma de prosa, em qualquer forma, em forma de silêncios que talvez nunca sejam publicados. 

Sabe o que faço agora? Escrevo da varanda. Bem! Por hoje é só. Agora, cara para o horizonte e daqui a pouco voltar a trabalho. Valeu pessoal pela companhia de sempre. 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Das paredes paralelas que se juntam...



Na infância, quando assistia desenhos e filmes de herói, era comum - alterando-se os contextos - a repetição de uma cena que me chama atenção: o herói em questão caia em um buraco (fosso) e em instantes as paredes começavam a se fechar. Ele estendia os braços colocava uma palma da mão em cada parede e empurrava em sentido contrário. Vi demais essa cena na infância, em diversos episódios de desenhos animados diferentes. A cena sempre me incomodou. Desligava a televisão e voltava depois, quando tudo havia sido resolvido. 

Mais tarde - já na adolescência - fui apresentado a obra de Albert Camus. Ao contrário da maioria, que começa pelo Estrangeiro, meu primeiro livro dele foi o Mito de Síssifo. A história do cara que é condenado a levar uma pedra ao topo da montanha. De lá, soltar a pedra. Depois ir até o “piso”, pegar novamente a pedra e reiniciar o caminho ao cume. O livro me lembrou dos episódios e das cenas que me incomodavam, descritas no primeiro parágrafo. 

Pois bem, eis que comecei a perceber - no auge da paixão pelo existencialismo - que a estada consciente em um mundo era uma linha tênue sempre imprensada por duas paredes invisíveis: “por que aqui estamos?” e “quando se fizer o silêncio total e inevitável do ‘deixar’ de ser” para onde iremos?”. Neste “imprensado”, estendemos cada palma de nossas mãos para não sermos sufocados por estas paredes. Eis que aí, concordava - já na época - com a a clássica tirada: “a existência precede a essência”. 

Passava a ser essencial a escolha de um sentido como uma prisão inevitável, para que a ausência de sentido e a completa liberdade não nos torturasse diante do fato da nossa racionalidade - permeada pelo pensamento materialista - não encontrar razão para “estar no mundo” e o em instantes “não estar no mundo”. Lembro-me de José Saramago ao falar da morte. Dizia ele não ter medo, mas um certo lamento diante do não estar mais. É um sentimento que compartilho. Não temo a morte. Eu tenho pena de morrer diante do maravilhoso milagre da existência, mesmo com todas as suas dores: as suportáveis e as aparentemente insuportáveis, que com o tempo suportamos. Afinal, insuportável mesmo só a morte, mas para que preocupar-se com ela? 

Daí, uma questão filosófica resumir tudo muito bem, como diz Camus: “só há verdadeiramente um problema filosófico: julgar se a vida vale a pena ser vivida ou não é responder a questão fundamental da filosofia”. Eu acredito que, mesmo diante das paredes que nos imprensam e dos fossos que caímos, que cairemos, ou que - por acaso - dos quais neste momento estamos tentando sair, vale sim a pena. Há na vida - vale a pena lembrar o escritor alemão Herman Hesse - um “teatro mágico só para iniciados” em novas esquinas por aí. 

É preciso exorcizar o mundo de seus demônios - como diria Carl Sagan - para conseguirmos contemplar de forma mais justa a beleza de aqui estarmos. Isto é independente de deuses, fadas, duendes, e outras forças que sirvam barra de metal para manter aquelas paredes separadas. O imprensar dessas paredes metafóricas nos leva aos questionamentos que são essenciais para a libertação. Se é que vocês me entendem, meus caros leitores. 

Já encontrei amigos que ao final destas indagações reforçaram ainda mais suas teses iniciais sobre aquilo que acreditam. Encontrei as metamorfoses ambulantes e por aí vai. O importante é que não sejamos Síssifos. E olhe que existem Síssifos por aí que levam a mais pesada das pedras do cotidiano anestesicamente confortáveis. A essência de seus valores estão postas em pedaços de papéis valiosos. E assim, dia e noite se sobe e desce pedra para acumular vil metal. Vão no avião confortavelmente na melhor poltrona, do lado da janela, mas sem tempo de olhar a paisagem. Estranho paradoxo. Estranho paradoxo de estar o tempo todo na crista da onda, mas sem tempo e inteligência o suficiente para pensar sobre a imensidão do mar. (O meu medo de usar muitas metáforas é ser incompreensível, mas nunca soube escrever de outro jeito!).

Pois bem, isto sem contar com o mundo que nos oferece mais ídolos que verdades. Mais adjetivos e frases feitas que argumentos, mais atalhos que caminhos produtivos...há quem ache isso ótimo. Eu fujo disso. Vai que a existência é só uma. Por via das dúvidas, eu ainda quero o melhor dela. E alguns dos melhores momentos estão nos segundos, minutos, horas após a superação da pior das dificuldades, quando respiramos o ar puro do alto da montanha da qual soltamos a pedra para nunca mais ir buscá-la lá embaixo. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

"Qual é a ideia que a maioria quer que eu defenda?"


Vivenciamos o momento da guerra eleitoral. Ideias engatilhadas? Que nada...na maioria da vezes, tudo é o trabuco da marketing, as músicas chicletes direcionadas a uma massa (no sentido de ser aquilo que se molda a uma ideia, que compra o que está posto sem maiores questionamentos), que vai no forró, no axé e na swingueira. Tá aí: eu queria ver um candidato eleito sem jingle e sem maquiagem...

Por isso, um dos livros que me marcou tanto foi o Ensaio Sobre a Lucidez do brilhante José Saramago. De tanto encarnado, de tanto azul, de tanto amarelo, de tanto arco-íris sem conteúdo algum, se deu a brancura: a galera foi às ruas e votou branco. Não defendo o voto nulo. Não é isso! É que são tão poucas as diferenças entre tanta coisa a se escolher, que me enoja os discursos comedidos, bonitinhos, parnasianos, metrificados pelo sabor das pesquisas qualitativas. 

Não se tem um candidato. Se constrói um candidato. Ele tem que caber na lacuna que as pesquisas apontam. A camisa de força costurada pelo bom vento da força dos números. Eu queria ter o prazer de ver aquele candidato que fala com propriedade sobre o que acredita, correndo o risco de ter sua ideia aceita ou não. Mas, esses caras falam para anestesiados corações turistas do oba-oba! Ensacados em estratégias e black-tie. 

Eu corro o risco de buscar pensar de forma diferente. De questionar. Eu corro esse risco. Corro na minha profissão, por exemplo, quando excedo regras, quando me liberto dos limites. Saber o que o meu leitor vai achar disto? Pouco me importa. Que ele chegue de forma sincera também ao debate. O maior respeito que eu tenho com o meu leitor é ser honesto intelectual de forma tal que não me conduza pelo que eles pensam, nem por suas expectativas. Espero que o leitor entenda isto. 

Tem versos de Humberto Gessinger que dizem assim: “Por que você não soa quando toca? Por que você não sua quando ama? Ninguém derrama sangue quando perde guerras de fliperama”. Como traduzem o nosso atual momento de escolhas. Como revelam as poucas diferenças entre tantos a escolher. Como reforça George Orwell: todos iguais, mas uns mais iguais que os outros. E a cada campanha, algo que se renova. Uma estratégia nova baseada em números. Adaptar sucessos radiofônicos que beiram a imbecilização em jingles...já é coisa do passado...

Eles respeitam tanto a nossa inteligência que já tratam debates como briga de torcidas organizadas. A consciência que se molda ao bolso. Massa que se molda. Aqui em Maceió, colégios e faculdades estão realizando debates de extrema importância entre os candidatos à administração municipal. É extremamente importante mesmo que se faça. É bom para a democracia. Enfim...

O debate aprofunda propostas, mostra diferenças entre os candidatos postos e até mesmo - em eventuais farpas trocadas - revelam quem é quem. Nas entrelinhas e no calor de um debate os projetos do marketing de campanha afundam muitas vezes. Não é - por acaso - que sempre surge a discussão obrigatória posterior ao debate: quem venceu? E abre-se mais uma rodada de debates, mas desta vez entre os eleitores. Se confirma voto, se reafirma, se muda, se decide, enfim...

Talvez, por conta deste peso, nos debates entre candidatos realizados pelas instituições muitas candidaturas estão comparecendo com a seguinte estratégia: o candidato é um time em campo e precisamos levar a torcida. As platéias são tomadas por torcidas organizadas e uniformizadas. Com hora de certa de aplaudir, de vaiar, de mandar ver...

Em um destes debates teve gente que até errou na coreografia do aplauso. Fez barulho antes do candidato começar a falar. Também - o que já deve ser invenção antiga - já teve torcedor assinando o ponto. Torcer virou profissão; ao menos em campanha. É a militância esperta cuja a consciência mora no bolso. E sou capaz de afirmar: muitos nem precisam de "usar o boné e professar a fé de quem patrocina"

Às vezes eu tenho medo de que, independente de quem ganhe, os eleitos sejamos nós...eleitos a continuar posando de vítimas no cenário que ajudamos a construir aceitando colheradas de um veneno goela abaixo, eleição após eleição, ano após ano, dia após dia...querer mudar? Querer assumir o risco do próprio destino? Pra que? Por quer? Quanto a querer algo? Bem, nós queremos tchu, queremos tcha! 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

As entrelinhas de um guardanapo


Eu tenho a mania de trabalhar solitariamente em cafeterias da cidade. Depois de apurada uma matéria, hora de procurar a xícara de café mais próxima e começar a dar vida a um texto. Em meio a este processo, eu rabisco guardanapos...o texto do jornal vai ganhando vida na tela do Mac; já outros textos vão ganhando vida em guardanapos.

Acho que os melhores planos do mundo nasceram em rabiscos de guardanapos. Sensação legal de subversão contra a majoritária corrente tecnológica. Coisa de maluco, como se estivéssemos fazendo planos para um novo mundo em uma caverna. 

Sempre penso que de um daqueles guardanapos pode sair a faísca para um grande livro que um dia eu vou lançar...bobagem, bobagem, bobagem! Os grandes livros nunca se fizeram. Mas, os guardanapos riscados possuem uma função importante. Às vezes de recarga no momento low battery. Hora de até um até logo no wi-fi; fechar-se em si mesmo. Vasculhar o que anda escondido. O que o escuro ilumina quando vão embora os holofotes do mundo. 

Aquela hora em que temos que ser metafóricos, pois chega de “literalmentes”. Há momentos em que o jardim ser só um jardim é “chato pra caralho” e a gente quer inventar umas fadinhas por ali. Sei, lá...versos em guardanapo para “desliteralizar” o mundo. Sempre me utilizei de ironias e metáforas, minha maior frustração é ter que explicá-las. E quase sempre estou fazendo isto. 

Mas, de volta aos guardanapos: eles abrem porta para uma sensação de liberdade. Quem me acompanha no Instagram deve observar que por vezes posto fotos de alguns destes pequenos pedaços de papéis rabiscados. Chegará o dia em que - em uma cafeteria - eu pagarei mais caro pelo guardanapo do que pelo café. “O café pode sair de graça senhor, como cortesia. Já o guardanapo, o senhor poderia passar por ali e deixar as córneas”.

Vivo esperando levar uma bronca dos garçons, do gerente, do dono do estabelecimento. Mas, os tempos de Procon me salvam. O consumidor tem sempre razão; ainda que a razão possa estar do lado de gente sem noção (às vezes). Duvida? Basta ter um bom marqueteiro e desprezar o mundo não-literal que nasce a partir dos...guardanapos...hehehe (essa metáfora foi longe; se você não entender a culpa é minha. Sou ruim demais com as palavras. As literais principalmente).

Mas, não se preocupem. Este tipo de texto invade guardanapos. Nunca, nunca, nunca jornais. Nos guardanapos qualquer palavra vira variação sobre um mesmo tema. Nos jornais, qualquer palavra é o mito da novidade, quando na verdade é mais do mesmo. 

Alguns destes rabiscos viram postagens no Facebook. Outros, no twitter. Outros, fotografia do Instagram (como já dito), outros pequenos bolinhos que vão parar no bolso da calça e são completamente estraçalhados quando esta vai para a máquina de lavar. Caraca, destruição de um universo paralelo contido no guardanapo? Pois é! 

Alguma vez um amigo me perguntou: por que tu não riscas os guardanapos que tu tens em casa? Ficar em casa mesmo riscando guardanapo e tomando café. Ter o trabalho de ir a uma cafeteria pra isto. No meu caso, meu amigo, seria literal demais. Os guardanapos da minha casa são comprados com a finalidade de serem...guardanapos. Aí, fica sem graça demais. Eu gosto da subversão, oh yeah!!!! 


Fica um escrito em guardanapo:

Nem fudendo
(Luis Vilar)

Xicará de café
Manter a fé
Venha o que vier...

Evitar zona de conforto
Evitar parar antes de morto
Sabe-se lá qual será o porto

Qual será o cais?
Qual dia de paz?
Qual caos ou tempestade...
...presos a esta tal de liberdade?

A vida não vai parar
Para você se recuperar
Lá fora, o sol vai nascendo
O dia segue acontecendo
Desistir, então? Nem fudeeeeeeendo!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O que vai dentro da garrafa?!


Leio Serena do Ian McEwan. É um livro desses que você começa a ler e não consegue parar. Alguns livros possuem essa caraterística e - ao meu ver - é algo que independente de ser uma genial leitura, ou uma literatura medíocre. Já li obras bem “menores” que me deixaram presos da primeira a última página, por exemplo...

Mas, voltando ao assunto: o livro de Ian McEwan traz uma personagem fantástica: Serena Frome, cuja paixão por Literatura a leva a desnudar o mundo e mostra uma fase que quase todo leitor (iniciante ou não) possui: a de achar que a cada página devorada o globo terrestre vai ficando mais ignorante, mais imbecilizado e preso sempre a discussões menores!

A incrível Serena é este tipo de personagem que usa os livros como lentes de aumento, janelas, portas, vias, estradas, automóveis, passagem, enfim...que enxerga no ato da escrita a possibilidade de sair construindo intersecções entre pensamentos que sabe-se lá onde vai chegar e de que forma vai chegar. 

O discurso do anti-comunismo adotado logo no primeiro capítulo mostra uma discussão que guarda isto nas entrelinhas. Não sei se é proposital do escritor, ou se são as minhas lentes de aumento, janelas, portas, vias, estradas, automóveis, passagem, links...enfim...mas, passei a observar Serena Frome por este ângulo.

Daí, lembrei do quanto o Conversas de Quinta - que pode mudar de nome em função da ausência de seu periodismo inicial - é para mim especial. Distante dos textos que me fazem ganhar a vida (no jornalismo), transformando letras em salário; o Conversas Quinta tem um lance diferenciado: é como pegar cada post destes que aqui se encontram, enrolar como se tivesse sido escrito em um pergaminho, colocar numa garrafa e lançá-lo ao mar. 

Acabei de lembrar que na internet se navega, né?! Termo propício. 

Pois bem, o lançar ao mar, sabe-se lá em que outra ilha este texto vai bater. Sabe-se lá como que tipo de lente de aumento ele vai se comportar. Sabe-se lá com que tipo de lente de aumento ele será escrito...não é mesmo?! Incrível literatura; amada literatura. Sempre pensei cá com meus botões: o mundo bem que pode ser dividido entre leitores e não-leitores. A literatura desperta, por vezes de forma tão cruel - se pensarmos que a ignorância em alguns casos é vista com benção - que já quis sim estar ao lado dos não-leitores.

Mas, do dilatar da alma, quando ela se estende ao ponto de ser maior que o corpo; ao ponto de ser um oceano onde toda literatura deságua, não há mais volta. É sem retorno. Vamos firmes, na nau dos leitores. De onde - a cada texto - lanço mais uma garrafinha ao mar, com mensagem que não tem objetivo, mas a qual pode ser dada objetivo por quem lê, com carinho, com afinco, com desprezo, com desdém, com ódio, com ternura, com sabe-se lá qual emoção. 


Literatura é assim! Dentro de uma história precisa, quantas linhas nos levarão a imprecisões...a pensamentos suspensos, a contemplações...

Serena Frome não existe, mas o livro de Ian McEwan criou uma ponte entre eu e a personagem. Por sinal, a literatura é essa ponte entre almas. Quando entro em sala de aula para falar de literatura para os estudantes sempre fico torcendo para despertar neles a paixão que eu sinto por este universo. Como se da nau dos leitores eu tentasse pescar não-leitores. É possível? Não sei...mas, vamos continuar lançando garrafas ao mar...

Um dia quem sabe eu  coloco uma pergunta - destas que apertam a alma e a enche de incertezas - em uma destas garrafinhas, lanço ao mar e - por coincidência ou não - alguém coloca a resposta em outra garrafa e eu acabo encontrando em um rio, cujas margens podem ser interligadas por esta ponte...quem sabe?!